Brasil dá um passo rumo a inflação e juros menores. Mas não já

Notícia exclusiva por Josué Leonel com a colaboração de George Lei.

A decisão do Conselho Monetário Nacional de reduzir o intervalo da meta de inflação de 2 pontos percentuais para 1,5 ponto em 2017 foi bem recebida pelo mercado. A medida, que diminui de 6,5% para 6% o teto para a alta anual dos preços, é o mais novo sinal de que o governo quer deixar para trás a política econômica do 1º mandato da presidente Dilma Rousseff, marcada por maior tolerância com a inflação e menor rigor no controle dos gastos públicos.

Se for cumprida à risca pelo Banco Central e complementada por uma política fiscal austera, a mudança será um passo importante, ainda que ainda preliminar, rumo a taxas de inflação e juros menores no futuro, mais alinhados ao padrão de outras economias emergentes. Na América Latina, países como Chile, Peru, Colômbia e México, que também adotam o regime de metas, têm obtido melhores resultados econômicos que o Brasil.
 

Catenary Sys

 
Instituições financeiras estrangeiras destacaram o propósito do governo de ganhar credibilidade. Com a margem de tolerância menor, o BC reforça o compromisso com a meta, diz o economista Bruno Rovai, do Barclays, em relatório enviado após a decisão do CMN. “É um passo bem-vindo e positivo na atual conjuntura de recessão, inflação alta, juros altos e consolidação fiscal”.

Para o Credit Suisse, a redução da banda da meta vai ajudar a mitigar o risco inflacionário. “O intervalo de tolerância do Brasil é um dos maiores entre os países que usam o regime de metas. Um intervalo mais estreito coloca o aparato institucional brasileiro mais em linha com as práticas da maioria dos países”.

No curto e médio prazo, contudo, a imposição de uma meta mais apertada para o BC aumenta, e não diminui, as chances de novas altas dos juros. A decisão do CMN reforça a mensagem recente mais dura do BC, focada em mostrar seriedade no combate da inflação e reconstruir a sua credibilidade, diz o economista Neil Shearing, da Consultoria Capital Economics. Mesmo quando a inflação ceder, o BC “não terá pressa em aliviar o aperto monetário”.

Embora a decisão do CMN seja positiva, ela não leva, isoladamente, à queda da inflação, adverte Shearing. O mais importante é o quanto as autoridades vão se empenhar em assegurar que a alta de preços ficará confinada à meta, o que não tem acontecido nos últimos cinco anos. Além disso, é preciso que as políticas monetária e fiscal atuem em sintonia. Ou seja, ainda que a mudança na meta sinalize dias melhores no futuro, a dura realidade de juros altos e cortes de gastos deve prevalecer ainda por um bom tempo.

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