Os títulos de curto prazo da Petrobras são uma boa compra, diz Edwin Gutierrez, diretor de mercados emergentes da dívida soberana na Aberdeen Asset Management. Gutierrez, que ajuda a supervisionar US$ 11 bilhões no Aberdeen, disse à repórter da Bloomberg News, Paula Sambo, em 30 de março, que o risco da Petrobras não pagar é exagerado.
P: Como você vê a economia do Brasil?
R: É um país BB- com uma dívida em relação ao PIB de cerca de 80 por cento. O Brasil não será realmente dependente de financiamento externo no próximo ano, quando a conta corrente atinge um excedente. Estamos acostumados ao Brasil ser um país com grande déficit de conta corrente, mas esse não vai ser o caso.
P: E sobre a política do Brasil?
R: O governo atual tem cerca de quatro semanas restantes. É só uma questão de tempo.
P: É uma boa notícia?
R: O Brasil não pode avançar enquanto a presidente Dilma Rousseff estiver no controle. Então, o que vem a seguir? Obviamente os procedimentos de impeachment. E, em seguida, [o vice-presidente Michel] Temer assume.
P: Ele também está contaminado?
R: Ele é parte do mesmo bilhete. Independente dele ter feito algo diretamente ou não, ele definitivamente se beneficiou de contribuições ilegais de campanha que foram canalizados para o Brasil através da empresa de construção. Temer não apareceu na lista política da Odebrecht. Eu acho que ele é muito mais inteligente do que outros políticos.
P: Temer pode arrumar a economia?
R: Há sempre a possibilidade de que Temer seja vinculado a Lava Jato, e o TSE [Tribunal Superior Eleitoral do Brasil] poderia invalidar a eleição. Mas vamos supor que agora Temer assume.
P: O que Temer pode fazer?
R: Ele está falando sobre potencialmente convidar [o ex-presidente de banco central Henrique] Meirelles [para ser ministro das Finanças]. O mercado veria isso de forma positiva. Ele é alguém que entende como Brasília funciona. O mercado será mais confiante que Meirelles terá sucesso, que ele seria capaz de fazer avançar a consolidação orçamental.
P: Será que Meirelles assume o cargo?
R: Suas aspirações são para ser presidente do país. Ele aceitaria o trabalho se ele for capaz de ajudar a corrigir a rota, que vai preparar o caminho para ele em 2018, e essa é a sua aspiração final. É um trampolim.
P: Quais são os riscos?
R: Se Temer e Meirelles, caso assumam, não realizarem qualquer coisa. O Brasil precisa de consolidação orçamentária desesperadamente. Se eles não são capazes de entregar, se eles não são capazes de fazer qualquer coisa na frente da reforma, o mercado vai se decepcionar.
P: Como você está posicionado?
R: Ficaremos vendidos no Brasil por um bom tempo. Teremos que ver o que Meirelles é capaz de realizar. Precisamos saber qual o papel que o PSDB vai ter, o quanto eles vão jogar a bola, o quanto eles vão apoiar os esforços de reforma. Isso tudo irá determinar a extensão da recuperação do mercado.
P: O que o Brasil fará com as taxas?
R: Os cortes da taxa estão vindo na segunda metade do ano.
P: Quais ativos você recomenda?
R: Estamos com cerca de 9 por cento em peso no Brasil. A nossa posição no Brasil é taxas locais, a moeda e Petrobras. Nós não temos muito em dívida corporativa, ligação dólar soberano e exposição ao banco estatal.
P: Você evita bancos estatais?
R: Nós não somos um grande fã dos bancos estatais. Eles poderiam ser usados potencialmente para fornecer algum tipo de empréstimo para a Petrobras. Essa é a razão que realmente enfraquece seus balanços.
P: O escândalo da Lava Jato fez você tratar a dívida soberana e corporativa de maneira diferente?
R: Sim, é por isso que não temos muita exposição corporativa no Brasil. Estamos realmente concentrados na Petrobras.
P: Como você negocia Petrobras?
R: Nós gostamos de bonds de 2 ou 3 anos, apenas porque pensamos que o risco de pagamento é exagerado. Você não está realmente compensando se movendo para fora da curva. Nós pensamos que há um risco de mais securitização, como vimos com o empréstimo chinês.
P: Qual é a sua previsão para o real?
R: Ele irá superar a frente e isso é realmente crítico. O carry sobre o real brasileiro é enorme. Ficamos com 3 por cento, 4 por cento. Eu não preciso que ele aprecie. Na verdade, poderia enfraquecer. O real brasileiro é um dos maiores instrumentos de carry lá fora.
P: Como você vê a Argentina?
R: O mercado realmente voltou a atacar. Ficaremos vendidos na Argentina por um bom tempo.
P: Como você avalia a eleição do Peru?
R: Se Keiko [Fujimori] vencer, haverá um rali na moeda peruana.
P: Qual é a sua visão sobre o México?
R: O México tem sido uma grande decepção. Sua reforma energética veio no momento errado. Foi o que aconteceu logo antes do colapso dos preços do petróleo. Todas as projeções ambiciosas de investimento estrangeiro direto no México não vão arrasar.