Brasil fica de fora do maior rali em emergentes desde 2016

Por Vinícius Andrade

O Brasil ficou de fora da maior alta mensal para ativos emergentes desde 2016 em meio a temores de que o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva vai embarcar em uma onda de gastos, o que turvou as perspectivas para os mercados locais.
O índice MSCI Brazil cai mais de 6% em novembro, caminhando para seu pior mês desde junho e na contramão do ganho de 14% do índice de referência de nações em desenvolvimento, que foi impulsionado por sinais de que a China está se aproximando de uma reabertura econômica e pela expectativa de que o Federal Reserve diminua o ritmo de aumentos da taxa de juros. O real é a única moeda que opera em queda no mês entre as principais divisas globais.
Desde sua vitória no segundo turno da eleição em 30 de outubro, Lula tem deixado os mercados inquietos ao apresentar planos de gastos que vão muito além do que os investidores esperavam. Isso incluiu uma proposta para a retirada definitiva do programa social Bolsa Família do teto que limita o crescimento dos gastos públicos.
O líder esquerdista, que ainda não revelou sua escolha para chefiar o Ministério da Fazenda, assustou ainda mais os operadores ao dizer que o que eles chamam de “gasto” ele considera um “investimento” e respondendo à piora nos mercados com um “paciência.”
“São muitas perguntas e nenhuma resposta definitiva além do desprezo ao teto”, disse Joel Virgen Rojano, diretor de estratégia para América Latina da TD Securities.
Alguns fundos locais abandonaram apostas otimistas em ativos brasileiros. A Genoa Capital disse que zerou a posição comprada em real contra o dólar, enquanto a Opportunity está tomada em juros e vendida em ações. Os contratos de juros futuros com vencimento em janeiro de 2024 subiram mais de 100 pontos base desde a eleição de Lula.
O Morgan Stanley, que vinha recomendando uma exposição overweight às ações do Brasil desde outubro de 2018, cortou o mercado acionário doméstico para neutro e sinalizou o risco de Lula nomear um ministro da Fazenda pouco ortodoxo.
Enquanto o Brasil subiu juros “bem à frente” dos pares globais, é improvável que a Selic caia “se os gastos fiscais pressionarem a dinâmica da inflação”, estrategistas do Goldman Sachs liderados por Caesar Maasry escreveram em relatório de 28 de novembro. “Por sua vez, taxas de juros mais altas provavelmente manterão os valuations pressionados.”

Ainda assim, os otimistas dizem que múltiplos depreciados deixam espaço para surpresas positivas. Os ativos reduziram as perdas acumuladas no mês esta semana em meio ao otimismo de que o plano de gastos provavelmente será diluído no Congresso, ajudando a amortecer seu impacto fiscal.

“Não se engane, continuamos construtivos com Brasil”, disse Rojano. “O novo governo terá que se tornar muito mais pragmático e moderado.”

Com a colaboração de Maria Elena Vizcaino, Felipe Saturnino, Barbara Nascimento e Davison Santana.

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