Brasil fragilizado vê a China no radar da crise

Notícia exclusiva por Josué Leonel.

O Brasil volta a enfrentar riscos vindos da Ásia dezoito anos após a crise que abalou o real, então uma novíssima moeda com apenas 3 anos de existência. O fato de os países emergentes, inclusive o Brasil, terem hoje reservas elevadas pode limitar o sofrimento. Contudo, também há ameaças hoje que inexistiam nos anos 90.

Para países exportadores de commodities como o Brasil, o maior risco hoje é o fato de a crise estar centrada na China, que duas décadas atrás estava apenas começando sua escalada na economia mundial, hoje tem o 2º maior PIB do mundo e é o maior parceiro comercial do Brasil. Para efeito de comparação, em 1997 a crise foi detonada por problemas na Tailândia e outros países do sudeste asiático, nenhum deles rankeado entre as 10 maiores economias do mundo.

O cenário para as moedas de países emergentes hoje é o pior desde a crise asiática, diz Bernd Berg, estrategista do banco Societé Générale. Para ele, os receios em relação à China estão aumentando. E a desaceleração do crescimento no país não pode ser compensada pelas economias mais desenvolvidas dos EUA, Europa e Japão, que mostram um crescimento “morno”. “As perdas nos mercados emergentes devem se intensificar”, diz o estrategista do banco, que no começo do mês elevou para R$ 4,00 a previsão para o dólar contra o real em outubro.

As reservas brasileiras de quase US$ 370 bilhões oferecem um escudo que pode eventualmente evitar uma disparada mais agressiva do dólar, mas não são um antídoto absoluto para crises. O próprio real e o rublo russo, moedas de dois países com reservas superiores a US$ 300 bilhões, são as duas divisas mais voláteis entre os 24 principais países emergentes.

A questão é que, mesmo o Brasil tendo reservas elevadas, isso não significa que o BC está pronto a queimá-las vendendo dólar no mercado, pois tratam-se de um dos poucos indicadores da economia brasileira preservados da deterioração dos últimos anos. Para Berg, não há incentivo para o BC aumentar as intervenções em defesa do real porque o Brasil precisa ampliar a competitividade de suas exportações como forma de estimular o crescimento. A previsão mediana do mercado é de recessão de 2% este ano e a estimativa para 2016 acaba de entrar para o terreno negativo.

O impacto do dólar mais alto na inflação é um problema, mas ele pode ser amenizado pela queda das commodities. O “efeito deflacionário” das commodities se contrapõe ao enfraquecimento do real, que tem um impacto “líquido” positivo para o Brasil, diz Berg.

O índice Bloomberg de commodities já está no menor nível desde 2002. O dólar, perto de R$ 3,50, ainda está abaixo do pico atingido em outubro de 2002, quando a moeda bateu em R$ 4,00 em meio ao temor do mercado de que o então candidato Lula mudasse a política econômica. 13 anos depois, o motor chinês que vinha ajudando a compensar deficiências dos países emergentes está falhando. E o Brasil precisa enfrentar a ameaça que vem da Ásia em um ambiente que combina crise política e uma economia marcada por déficits fiscal e em conta corrente, inflação mais de duas vezes acima da meta e recessão.

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