Por Josué Leonel, com a colaboração de George Lei, Jorge Xavier De Oliveira e Davison Santana.
A venda de fatia do BTG Pactual na Rede D’Or São Luiz para o Government of Singapore Investment Corporation (GIC) esta semana representa a mais recente investida do capital estrangeiro no País e reforça uma ideia alentadora: a de que nem a recessão, nem a crise política estão sendo suficientes para afastar o interesse dos investidores pelos ativos brasileiros, que são vistos como relativamente baratos. E os asiáticos, principalmente os chineses, parecem ser a onda da vez.
Dados compilados pela Bloomberg sobre participação de países asiáticos selecionados nas operações de Fusão & Aquisição no Brasil mostram um aumento de 222% do volume financeiro nos últimos três meses quando comparado ao mesmo período do ano passado. O apetite asiático contrasta com o desempenho de outras regiões que tradicionalmente são fortes como origem de investimentos. As compras originadas da Europa caíram 68% e as dos Estados Unidos 28% no mesmo período, embora seus números absolutos ainda sejam maiores do que os da Ásia.
Para Pablo Spyer, diretor da Mirae Asset Corretora no Brasil, a percepção de que o Brasil ficou barato após a desvalorização do real ajuda a atrair os investidores. Ainda que alguns prefiram esperar altas adicionais do dólar por verem riscos de mais turbulências, outros não querem perder oportunidades, pois sabem que a oferta de boas empresas é finita. Ele observa que há “muito apetite”, sobretudo por parte de investidores chineses, coreanos, japoneses e de Cingapura.
A participação da Three Gorges no último leilão de hidrelétricas mostra que o interesse chinês por alvos tradicionais, como infraestrutura, segue elevado. Mas o horizonte é mais amplo. A Azul acertou a venda de fatia de 23,7% para HNA Group, por R$ 1,7 bi. Pablo Spyer lembra que apenas uma pequena parcela da população na China tem passaporte. Isso sugere elevada demanda reprimida, o que deve se refletir também em outros investimentos relacionados à aviação e ao turismo, como em hotéis. Bancos, hospitais, alimentos e transportes são outros segmentos que interessariam ao país.
A China tem US$ 3,5 trilhões em reservas e a desaceleração do crescimento no país amplia a busca por diversificação, segundo o diretor da Mirae. “Desde 2008, o real state é um investimento persistentemente negativo na China, o que também está levando os chineses a procurar as mais diversas alternativas. Parte desse fluxo está sendo direcionada para cá.”
Os investidores asiáticos têm uma visão de longo prazo e não se assustam com notícias negativas no curto prazo, como a queda profunda do PIB no terceiro trimestre, diz Spyer. “Todos acreditam que, no longo prazo, o Brasil vai melhorar e muito.”
O fluxo cambial reflete parcialmente esta realidade ambígua, em que pelo menos parte dos investidores parece não se deixar levar pelos riscos imediatos que têm gerado volatilidade na bolsa e no dólar. Apesar da crise, o Brasil recebeu, em termos líquidos, US$ 11,7 bilhões no acumulado deste ano. Só em novembro, até o dia 27, o fluxo foi positivo US$ 4,1 bilhões.
No Ocidente, popularizou-se a ideia de que palavra “crise”, em chinês, seria escrita com dois ideogramas, um significando “perigo” e o outro, “oportunidade”. Com um dólar comprando quase quatro reais, o segundo significado parece estar sendo levado
a sério.
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