Brasil perde 1º prazo de acordo de energia limpa para Olimpíadas

Por Tariq Panja.

O governo brasileiro perdeu um prazo fundamental para garantir um acordo de fornecimento de energia que respeita mais o meio ambiente para as Olimpíadas Rio 2016. Caso não se chegue a um acordo, os organizadores das Olimpíadas dizem que terão de usar geradores a diesel, notórios pelas altas emissões, para abastecer todo o evento que vai durar duas semanas.

Na proposta original para o Comitê Olímpico Internacional, o COI, os organizadores defenderam a sustentabilidade da rede de energia existente no Rio de Janeiro. Cerca de 85 por cento da eletricidade brasileira vem de fontes renováveis, principalmente energia hidrelétrica, de acordo com o relatório de sustentabilidade Rio 2016 publicado no ano passado. “Por isso, o foco está em aproveitar ao máximo a rede de energia”, escreveram os organizadores no relatório. “O Rio 2016 tem trabalhado com a concessionária de energia elétrica do Rio de Janeiro para fornecer a energia primária e de backup para as principais instalações por meio de rede elétrica”.

A empresa de serviços públicos, Light, e o governo federal perderam o prazo autoimposto do dia 31 de outubro para assinar um acordo de fornecimento de energia para os jogos, e, em uma recente reunião com funcionários do COI, os organizadores foram pressionados a apresentar uma alternativa. Normalmente, os jogos usam geradores para as instalações temporárias e para o Centro de Transmissão Internacional. O plano de backup do Rio 2016 é usar geradores em todo o evento.

“É bom para um plano B, mas não é bom o suficiente para ser o plano A”, disse o porta-voz do Rio 2016, Mário Andrada. “Preferimos ficar com o plano A”.

Geradores a diesel

Geradores de backup a diesel produzem emissões a taxas semelhantes ou superiores às dos geradores de gás natural de mais alta emissão, de acordo com pesquisadores da Universidade de Cornell. “É muito surpreendente que eles sequer considerem essa opção”, disse Max Zhang, que estuda a poluição do ar no Departamento de Engenharia Mecânica e Aeroespacial da universidade. A poluição do ar causada por tantos geradores poderia afetar muitos atletas e turistas, ele acrescentou.

A Light disse que não há um acordo definido e não quis comentar mais. Um porta-voz do Ministério do Esporte insistiu que o governo vai encontrar uma solução para os jogos.

As dificuldades no Rio de Janeiro são um contraste gritante com os Jogos de Londres 2012, que assinaram um acordo com a EDF Energy cinco anos antes do evento e, com dois anos de antecedência, criaram um centro de energia dentro do Parque Olímpico. Embora Londres tenha sido elogiada por seus esforços de sustentabilidade, organizações ambientalistas independentes estabelecidas para monitorar os jogos ainda criticaram o uso excessivo de geradores em algumas áreas. Londres usou 373 geradores temporários para os Jogos Olímpicos e para os Paraolímpicos depois.

Diferenças culturais

O COI disse que conversou com Ricardo Leyser, secretário-executivo do Ministério do Esporte. “Esperamos que os organizadores brasileiros cumpram o plano para o fornecimento de energia como ele foi apresentado naquela reunião”, disse o COI em um comunicado.

Os organizadores do Rio preferem não comparar seus planos com os de Londres e salientam a diferença cultural entre brasileiros e britânicos. Além disso, a Copa do Mundo de futebol do ano passado estabeleceu um precedente com a finalização de projetos no último minuto. Embora quase todos os 12 estádios utilizados tenham sido entregues com atraso e acima do orçamento, o campeonato foi um sucesso.

“Vamos ter energia no fim das contas”, disse Andrada, que reconheceu que os custos vão, inevitavelmente, aumentar à medida que se aproxima o início das Olimpíadas. “Vocês estão usando uma lógica que não se aplica a este país. Teremos energia. Não tenham medo”.

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