Brasil precisará agir rápido

Fotógrafo: Paulo Fridman/Bloomberg
Fotógrafo: Paulo Fridman/Bloomberg
 
A decisão da Câmara dos Deputados do Brasil, em votação, de levar adiante o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff promete acabar com o longo impasse político do país. Os mercados vêm respondendo com otimismo. Mas quando Dilma estiver fora da presidência, o novo governo do Brasil precisará entender que a janela para uma nova cooperação e para reformas será estreita.

A margem ampla da votação na Câmara sugere que o Senado poderá concluir o processo de impeachment logo, em meados de maio. O vice-presidente Michel Temer, líder do PMDB — antes o principal parceiro da base aliada de Dilma — já está em contato com possíveis ministros para formar um governo de unidade nacional.

Temer tem uma tarefa difícil, e não apenas por não contar com o apoio generalizado do público e por enfrentar a resistência teimosa de Dilma e de seu patrono, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Como muitos outros integrantes de seu partido — incluindo os líderes da Câmara e do Senado –, Temer ainda poderá ser implicado no escândalo multibilionário de corrupção e propinas da Petrobras. E ainda há chances de o Tribunal Superior Eleitoral chamar novas eleições devido a irregularidades no financiamento da campanha de 2014.

Mesmo colocando essas ameaças políticas de lado, o trabalho necessário para melhorar a economia do Brasil é considerável. O governo Dilma esbanjou os frutos da expansão global das commodities. Agora que essa expansão virou queda, as dívidas pública e privada estão crescendo. No ano passado, a economia encolheu cerca de 4 por cento e a contração deverá se manter em 2016. O desemprego quase duplicou desde a reeleição de Dilma, em 2014.

Por isso, os brasileiros não estão dispostos a verem um governo interino impor o tipo de austeridade necessária para melhorar a difícil situação fiscal do país. Temer precisará trabalhar com outros partidos pró-mercado para impulsionar o crescimento. Em um manifesto divulgado no último trimestre do ano passado, o partido propôs, entre outras coisas, reforçar a independência do banco central, reduzir o papel do Estado no setor do petróleo e diminuir as obrigações que colocam uma camisa de força no orçamento nacional.

Será importante também, para o esgotado eleitor brasileiro, a expansão das leis anticorrupção — muitas delas promulgadas no governo Dilma. No mês passado, os promotores que conduziram a investigação da Petrobras ajudaram a reunir 2 milhões de assinaturas em uma petição que pedia ao Congresso a análise de 10 novas leis que ajudariam a entidade a levar autoridades corruptas à Justiça.

O ideal é que tudo, ou a maior parte disso, seja feito até o final do terceiro trimestre. As eleições municipais, programadas para outubro, reviverão o espírito animal dos partidos políticos, reduzindo as perspectivas de cooperação. Se quiser ficar do lado certo da história, o possível presidente Temer precisará se mexer rapidamente.

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