Brasil, Rússia podem prolongar período de queda de preços agrícolas

Por Isis Almeida.

Fotógrafo: Matthew Lloyd/Bloomberg
Fotógrafo: Matthew Lloyd/Bloomberg
 
A expressão “mercados emergentes” ganhou um significado completamente novo para os produtores rurais de todo o mundo.

No fim dos anos 2000 a demanda por alimentos das crescentes populações da China e da Índia desencadeou um frenesi por investimentos agrícolas e fez os preços subirem. Agora, os outros dois grandes mercados emergentes — a Rússia e o Brasil — estão por trás do colapso dos preços em um momento em que os produtores estão ampliando a produção de grãos e inchando os estoques. Com moedas fracas, os produtores desses países lucram com o aumento da produção e isso poderá prolongar o bear market por outros três a cinco anos, segundo Dan Basse, presidente da empresa de pesquisas AgResource em Chicago.

Os preços das commodities agrícolas caíram por três anos, sequência mais longa em mais de uma década, em um momento em que as colheitas encheram os silos e superaram a demanda. O Bloomberg Agriculture Subindex registrou um declínio de 0,7 por cento em 2016 e o Conselho Internacional de Grãos (IGC, na sigla em inglês) disse que os estoques internacionais de grãos permanecerão próximos à maior alta em 30 anos na próxima safra.

“Todos nós acreditamos nessa tese de ter que alimentar nove bilhões de bocas até 2050”, disse Basse em entrevista na conferência Cereals Europe, realizada pela empresa em Genebra. “Infelizmente, no momento, a demanda global por grãos não está acompanhando o ritmo do aumento da produção”.

Auge agrícola

O índice agrícola da Bloomberg dobrou nos quatro anos seguintes à crise econômica global de 2008 — impulsionado pelo crescimento dos mercados emergentes e por políticas que ampliaram a demanda por biocombustíveis. Os produtores responderam plantando mais e, com isso, os preços despencaram.

A desvalorização das moedas de países como Rússia, Brasil e Argentina faz com que o cultivo ainda seja rentável, mesmo com preços mais baixos para as safras. Isso encorajou uma produção ainda maior.

“Há um velho ditado no mercado de commodities: não há cura para os preços baixos como preços baixos”, disse Basse. “Infelizmente, os preços baixos já não são os mesmos para todos. Antigamente os preços baixos realmente faziam a UE e os EUA recuarem. Agora temos a América Latina e os nossos amigos do Mar Negro, que estão realmente acelerando”.

O trigo para entrega em maio caiu 3,3 por cento na semana passada, maior declínio do ano, devido à preocupação de que a melhora das condições climáticas ampliará a oferta. Os preços estão no nível mais baixo em um mês.

O Brasil vai ultrapassar os EUA como maior produtor mundial de soja na temporada 2016-2017 e a produção poderá chegar a 106 milhões de toneladas, disse Basse.

Produtores de grãos

Na Rússia os produtores conseguiram ampliar a produção mesmo após uma seca. A colheita aumentará cerca de 1 por cento, para 61 milhões de toneladas nesta safra, projeta a AgResource. A Argentina ampliará a produção de trigo em mais de 50 por cento e a de milho em mais de 30 por cento, também devido a uma redução nos impostos sobre as exportações.

“Não temos nenhum crescimento substancial no comércio global de grãos além da elevada demanda por soja da China”, disse Basse.

A China está encerrando um programa de armazenagem de milho e tomará medidas para reduzir os estoques existentes, o que aumenta o sentimento de baixa. O milho mais barato prejudicará a demanda pelo farelo de soja em 10 a 12 por cento na pecuária e levará a importações mais baixas.

A produção de soja na China aumentará para 14 milhões a 15 milhões de toneladas na próxima safra, contra pouco menos de 11 milhões de toneladas atualmente, disse Basse. Nos próximos dois a três anos o número poderá chegar a 19 milhões de toneladas, disse ele. O ritmo das importações de soja da China poderá desacelerar em 50 por cento, disse ele.

“Vemos o excesso de oferta como a principal tese”, disse Basse.

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