Brasileiros de alta renda superam medo de hedge funds

Por Jonathan Levin.

Investidores brasileiros de alta renda aumentam a procura por hedge funds dos Estados Unidos em busca de retornos mais altos e diversificação dos portfólios. A nova tendência marca uma reviravolta para um segmento de investidores que costumava evitar aplicações arriscadas no mercado americano e suas regras relativamente inflexíveis.

Banqueiros têm enviado equipes para fazer contato com os hedge funds de maior reputação dos EUA, como o Renaissance Technologies, Two Sigma, Tiger Global Management e Tudor Investment.

A taxa básica de juros no Brasil – que chegou a 14% em 2016 – caiu para o nível mais baixo em décadas no ano passado e se mantém em 6,5%. De repente, investidores acostumados a rendimentos atraentes nos money markets perceberam que precisam arriscar mais para conseguir retornos mais altos.

“Estamos dizendo aos nossos clientes para sofisticar mais seus investimentos”, disse Rubens Henriques, responsável pela área de fund of funds do Itaú Unibanco, maior banco privado do Brasil. Henriques tem recomendado portfólios mais diversificados e “produtos de maior valor agregado, que inclui mais hedge funds internacionais e private”, disse.

Até pouco tempo atrás, investidores brasileiros evitavam aplicações com gestoras de ativos alternativas no exterior, e por que deveriam?

Muitas aplicações nos EUA exigem longos períodos de espera para o resgate, conhecidos como lockups, que variam de seis meses para hedge funds até anos no caso de private equity. Por outro lado, os fundos multimercados, equivalentes aos hedge funds do Brasil, geralmente permitem o resgate cerca de 30 dias após o pedido do investidor.

Clientes que buscam retornos elevados precisam aceitar investimentos mais voláteis, menos líquidos, disse Luiz Severiano, chefe global de private banking do Itaú, em entrevista no escritório do banco em Miami.

Concorrentes como Bradesco e BTG Pactual disseram que também observam um interesse crescente de clientes brasileiros em investir com gestores de fundos estrangeiros, embora não tenham divulgado números.
Este ano, o Bradesco começou oferecer aplicações em um fundo da Oaktree Capital, sua primeira oferta desse tipo, segundo Renato Ejnisman, diretor-executivo do Bradesco.

Guilherme Salgueiro, diretor-executivo do BTG, disse que o banco ampliou recentemente suas opções de investimento para incluir a Perceptive Advisors, administrada por Joseph Edelman, além das opções existentes com o Renaissance e Two Sigma. O Renaissance foi fundado por James Simons e é um dos hedge funds mais antigos, com uma estratégia quantitativa. O Two Sigma é um fundo quantitativo de US$ 58 bilhões administrado por David Siegel e John Overdeck.

Investimentos ilíquidos – como imóveis, títulos do setor imobiliário e capital de risco – foram áreas significativas de crescimento no segmento de private banking no exterior, disse Salgueiro.

Ainda assim, agora pode não ser o momento mais oportuno para investir em hedge funds. Embora o período de três meses encerrado em março tenha sido o melhor trimestre para o segmento desde 2010, há anos a indústria oferece retornos abaixo da média. Por isso, investidores correm para as saídas de emergência: os saques somaram US$ 116,4 bilhões nos últimos três anos, o maior volume desde o impacto da crise financeira de 2008, segundo a Hedge Fund Research.

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