Por Raymond Colitt e Priscilla Murphy.
Os políticos brasileiros preocupados com a possibilidade de serem envolvidos no próximo round de uma devastadora investigação de corrupção iniciada há três anos podem ter de esperar pouco tempo mais para descobrir seu futuro.
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pode pedir ao Supremo ainda nesta segunda-feira autorização para abertura de novos inquéritos sobre parlamentares baseados nos depoimentos sigilosos dos executivos da construtora Odebrecht. Alguns desses homens de negócios foram condenados em separado pelo pagamento de propinas e pelo financiamento ilegal de campanhas políticas.
Contudo, o Supremo levará tempo para registrar, classificar e processar o que a imprensa brasileira chama de “delação do fim do mundo”, segundo uma pessoa com conhecimento direto do funcionamento do tribunal, que pediu anonimato porque o assunto não é público. No fim de semana, o jornal O Estado de S. Paulo publicou que o sigilo imposto às evidências não seria cancelado antes do fim deste mês.
Alguns dos políticos mais poderosos do país estão preocupados há meses após citações nos depoimentos vazados para a imprensa, que revelam supostos pagamentos generalizados a parlamentares, governadores e líderes de partidos, inclusive a assessores do presidente Michel Temer. O presidente e seus assessores mais próximos negaram qualquer irregularidade.
A decisão de publicar os volumosos relatos de dezenas de executivos da Odebrecht recai sobre o juiz do Supremo, Edson Fachin, que assumiu a relatoria do caso só após a morte de Teori Zavascki em um acidente de avião, em janeiro.
O que está em jogo é em que medida a fase mais recente da Lava Jato poderia afetar a agenda de reformas de Temer no Congresso. As propostas de seu governo de reduzir os pagamentos de pensões e desregular o mercado de trabalho são consideradas essenciais para tirar a maior economia da América Latina da recessão e para ajudar a restaurar a classificação de crédito de grau de investimento do país.
Temer já perdeu diversos ministros devido a acusações de irregularidades e o ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, citado na investigação do esquema de corrupção, estava de licença médica nas últimas semanas. Por diversas vezes ele negou qualquer irregularidade e, segundo a imprensa brasileira, deverá retornar ao trabalho nesta segunda-feira.
Temer disse em fevereiro que removerá temporariamente qualquer ministro que estiver sob investigação, o que significa que ele poderá perder mais assessores nas próximas semanas. Um julgamento poderia demorar meses e o veredicto pode não sair antes do término do mandato de Temer, no fim do ano que vem.
Novas acusações e investigações certamente gerarão barulho, mas não diminuirão os 80 por cento de chances de Temer concluir seu mandato, ou a probabilidade de 70 por cento de aprovar a reforma da previdência, afirmou a consultoria política Eurasia Group em um relatório, na semana passada.
Os executivos da Odebrecht evitaram implicar Temer diretamente e, além disso, os parlamentares, alertas sobre o que uma crise econômica mais profunda poderia representar para eles na eleição do ano que vem, provavelmente apoiarão a proposta de reforma do presidente.
A Lava Jato colocou dezenas de empresários brasileiros na cadeia desde o início da investigação, há quase três anos.
Dos 50 políticos que Janot pediu para serem investigados há dois anos, apenas alguns enfrentam julgamento no Supremo. Pela lei brasileira, ministros, senadores e deputados podem ser julgados apenas pela mais alta corte do país.
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