Por Gerson Freitas Jr.
Uma possível oferta de ações da Braskem pela Petrobras poderia valorizar os papéis da fabricante de resinas, reduzindo seu desconto em relação aos rivais globais. A avaliação é do presidente da Braskem, Fernando Musa.
A transação elevaria a fatia da ações que é livremente negociada na bolsa de valores, o chamado free float, tornando a companhia mais visível para os investidores estrangeiros, afirma o executivo. Atualmente, o free float da Braskem é de apenas 25 por cento.
“A Braskem é global, tem concorrentes e fornecedores globais, mas é negociada com desconto em relação aos seus pares, e um dos motivos pode ser o baixo free float,” afirmou Musa, em uma entrevista em São Paulo. Uma decisão, pela Petrobras, de vender seus papéis no mercado estaria em “boa direção” para corrigir o problema, mesmo com um impacto possivelmente negativo sobre o preço das ações no curto prazo. “Há um espaço enorme para criação de valor.”
A Petrobras está procurando uma forma de vender sua participação na Braskem, estimada em aproximadamente US$ 4,5 bilhões, como parte do programa de desinvestimentos anunciado em 2016. A estatal divide o controle da petroquímica com a Odebrecht. As duas empresas estão discutindo um novo acordo de acionistas, com a possível unificação dos papéis preferenciais e ordinários em uma única classe de ação, informou a Petrobras em comunicado no dia 19. Na quarta-feira, o presidente da Petrobras, Pedro Parente, declarou em um evento que a petroleira pode vender ao menos uma parte de suas ações após a conclusão desse processo.
O presidente da Braskem afirma que não participa das discussões entre os acionistas, e que que qualquer conclusão sobre a forma como a Petrobras sairá da Braskem cabe exclusivamente aos sócios controladores da petroquímica. Mas o executivo pondera que um desfecho rápido seria bem-vindo.
“Tirar a incerteza é bom, qualquer decisão é boa, porque já está esse ’overhang’ do que vai acontecer há muito tempo”, disse Musa.
Qualquer modelo a ser escolhido para a saída da Petrobras terá obstáculos, segundo o executivo. Uma das alternativas, a venda da fatia para um concorrente direto, esbarraria em questões operacionais, regulatórias e competitivas — em ano de eleições no Brasil. E mesmo a venda em bolsa, pelo tamanho da operação, poderia enfrentar dificuldades para ser absorvida: a oferta de ações da BR Distribuidora, a maior no Brasil desde 2013, captou apenas um terço do valor da participação que a Petrobras pretende negociar.
Enquanto aguarda por uma decisão, a Braskem continua a olhar oportunidades fora do Brasil, afirmou Musa. O maior produtor de resinas das Américas quer tirar vantagem da oferta crescente de gás nos Estados Unidos para expandir sua produção via aquisições ou novas plantas. A companhia também avalia oportunidades em outras regiões do continente e até na Europa. O Brasil, onde a demanda por resinas caiu “de modo astronômico” nos últimos anos de recessão, ainda segue fora do radar para novas expansões.
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