Por Chris Hughes.
Para muitos investidores, a campanha que antecedeu o referendo sobre a permanência ou saída do Reino Unido da União Europeia parecia não ter fim. É bom que tenham se acostumado. A votação desta quinta-feira é apenas o fim do começo de um longo período de incerteza política que pode pesar sobre os mercados e a atividade econômica nos próximos 12 meses.
O Reino Unido continuará exigindo atenção. O Partido Conservador, do primeiro-ministro David Cameron, está profundamente dividido sobre o assunto Europa e a liderança dele será consistentemente questionada — independentemente do resultado do referendo. O potencial de continuidade da turbulência política pode seguir azedando o clima no mercado acionário britânico, onde o valor das aberturas de capital desabou 62 por cento em 2016.
As preocupações dos investidores com pesquisas de intenção de voto voltarão bem antes da eleição presidencial nos EUA em novembro. Neste domingo, a Espanha faz uma segunda rodada de eleições em todo o país, após uma votação inconclusiva em dezembro. É possível que nenhum partido consiga maioria também na rodada de domingo, o que levaria a negociações para formação de um governo talvez instável. Ou até a uma terceira rodada eleitoral.
O tema principal para os investidores é se o governo que for formado vai dar seguimento a reformas econômicas potencialmente dolorosas para impulsionar o crescimento. Para economistas do Deutsche Bank, chega a 30 por cento a chance de ascensão da coalizão de esquerda, incluindo o partido Podemos, que se posiciona contra medidas de austeridade. Se isso ocorrer, temores de reversão de reformas existentes podem causar um salto no rendimento dos títulos da dívida espanhola.
Mesmo se não houver drama na Espanha, existe espaço para isso na Itália em outubro, no referendo sobre a reforma constitucional, que o primeiro-ministro Matteo Renzi entende como a “mãe de todas as batalhas” de seu cargo. A reforma visa dar ao país um governo mais estável e Renzi disse que pedirá demissão se não for aprovada.
O primeiro-ministro é grande defensor de reformas na Itália pós-crise e seu Partido Democrata está em baixa após ter sido derrotado em eleições locais pelo Movimento Cinco Estrelas. Se Renzi partir, não se sabe a forma de um eventual novo governo. Se o ímpeto das reformas esfriar, os investidores talvez intensifiquem a pressão para o país voltar aos trilhos por meio da elevação dos juros da dívida italiana.
Logo após a decisão eleitoral nos EUA, os investidores passarão a se preocupar com a eleição presidencial na França no começo de 2017 e com a eleição federal na Alemanha em seguida. Durante esse período, os investidores poderão estar às voltas com outro aumento de juros nos EUA e com uma repetição da volatilidade nos mercados que acompanhou o último acréscimo, em dezembro.
Investidores profissionais chamam isso de “risco de evento”. Para o resto dos mortais, talvez seja o novo padrão de normalidade.
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