Brexit é ruim para o Reino Unido e para a Europa

Por Bloomberg News.

Não era pra ter acontecido. Há três anos, quando o primeiro-ministro britânico David Cameron prometeu ao povo um referendo sobre a continuidade na União Europeia, ele estava certo da vitória. Os britânicos tinham uma ideia diferente. Na quinta-feira, votaram pela saída.

Foi uma escolha importante – e não no bom sentido. O risco imediato para a economia britânica é grave porque a decisão cria uma incerteza enorme. Isso deve persistir por meses, até ficarem claras as novas regras comerciais que definirão a relação econômica do Reino Unido com a Europa e com o resto do mundo.

Some-se a isso a probabilidade de turbulência política dentro de casa. Cameron efetivamente perdeu a confiança da nação e renunciou na sexta-feira. A maioria dos parlamentares – tanto do Partido Trabalhista como do Partido Conservador – apoiava a permanência na UE. Como o eleitorado vai confiar neles agora? A Escócia votou pela permanência e a campanha pela independência pode ganhar força renovada. Essa votação fará tremer as bases do Reino Unido.

A UE pode ficar tão abalada quanto. O Reino Unido é apenas um integrante do bloco, mas um dos maiores e mais influentes.

O primeiro a sair da UE desta maneira agora vai tentar provar que a saída funciona. Se o improvável sucesso se concretizar, outros membros da UE podem tentar fazer o mesmo.

O sentimento anti-UE não se limita ao Reino Unido. Em 10 países do bloco sondados pelo Pew Research Center, a união é vista de forma desfavorável por quase metade dos cidadãos. Na estimativa mediana da pesquisa, 42 por cento querem a devolução de poderes a seus governos nacionais, comparado a 19 por cento que desejam mais poderes transferidos à UE. Atualmente, a união é ainda menos popular na França do que no Reino Unido. Logo vem uma eleição na Espanha e depois o referendo sobre a reforma constitucional na Itália. O choque da saída do Reino Unido certamente será reverberado.

Mais tarde haverá tempo para apontar o dedo para os culpados. Por ora, em meio a toda a incerteza, a prioridade é restaurar a calma. Isso significa dar um passo atrás nos excessos retóricos da campanha, na qual cada lado previa catástrofes se o adversário vencesse. Em vez disso, a ênfase deve ser na continuidade e não na descontinuidade, tanto quanto for possível.

Enquanto se prepara para deixar a UE, o Reino Unido deve buscar acesso rápido ao mercado europeu em termos amigáveis, como os concedidos a Noruega e Suíça, e ser prontamente atendido. Trata-se de interesse mútuo. Para viabilizar isso, o Reino Unido precisará obedecer uma enormidade de regulamentos da UE, com detalhes que ainda precisam ser decididos. Nesse processo de acomodação, nenhum lado deve adotar uma posição maximalista. Após tantas certezas vazias durante o debate que antecedeu o referendo, é preciso disposição a ceder.

Os ex-parceiros de UE podem ficar tentados a castigar o Reino Unido e assim dar o exemplo para quem deseja sair. É preciso que resistam à tentação. Primeiramente porque uma abordagem punitiva dificilmente conquistará os corações de cidadãos de outros países do bloco, que já reclamam do que consideram excessos da UE. Em segundo lugar, porque Reino Unido e UE podem e devem continuar sendo verdadeiros amigos e aliados, apesar do resultado da votação. É preciso começar a construir esse novo relacionamento agora.

É óbvio que os perigos da situação são maiores do que as oportunidades. Mas de todo modo, oportunidades existem e devem ser aproveitadas. Seja qual for a postura da UE em relação ao ex-parceiro, o bloco deve reconhecer a força do crescente sentimento de oposição à UE em outras partes e agir para revertê-lo. Talvez a Brexit dê o empurrão necessário. Há muito tempo, os líderes europeus preferem ignorar o descontentamento a reconhecê-lo – e muito menos acomodá-lo.

A decisão do Reino Unido pela saída mostra o enorme custo dessa complacência. Para minimizar os danos a seus próprios interesses e para impedir que um novo referendo aconteça, a Europa precisa mudar.

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