Brexit soma US$ 380 bi à pilha de títulos com yields negativos

Por Eshe Nelson.

A fuga dos investidores internacionais para ativos mais seguros após a decisão do Reino Unido de deixar a União Europeia adicionou US$ 380 bilhões ao montante de títulos soberanos com yields negativos.

Existem agora US$ 8,73 trilhões em títulos com rendimentos abaixo de zero em todo o mundo, segundo os Bloomberg World Sovereign Bond Indexes, contra US$ 8,35 trilhões antes do referendo. Na zona do euro, os títulos alemães de referência com vencimentos em até 10 anos estão negativos, enquanto os yields de 10 anos dos títulos japoneses atingiram uma mínima recorde de menos 0,215 por cento na sexta-feira.

Quando se tornou clara, a vitória dos defensores da Brexit desencadeou um caos no mercado, fazendo a libra sofrer seu pior declínio na história e causando a queda das ações bancárias britânicas e o aumento dos preços do ouro. Os sinais de turbulência econômica e política já se apresentaram. O primeiro-ministro britânico, David Cameron, planeja deixar o cargo em outubro, adiando as negociações de saída da UE, e os líderes europeus estão pedindo o início imediato das discussões.

“Parece que o risco político dominará o segundo semestre, com a perda dos ativos de maior risco e o ganho dos ativos seguros”, disse Piet Lammens, chefe de pesquisa do KBC Bank em Bruxelas. “As grandes apostas dos fundos provavelmente ainda serão feitas.”

Os yields dos títulos alemães de 10 anos caíram para menos 0,17 por cento na sexta-feira, nível mais baixo desde que a Bloomberg começou a coletar os dados, em 1989, enquanto os yields dos títulos de dois anos atingiram uma mínima recorde de menos 0,74 por cento.

O Brexit está entre os riscos globais que ajudaram a aplicar yields tão baixos aos principais títulos da Europa. Os sinais de desaceleração do crescimento ao redor do mundo, e particularmente nos mercados emergentes, encorajaram o Federal Reserve a adiar o aumento das taxas de juros nos EUA. As consequências da saída do Reino Unido do maior mercado comum do mundo levantaram a especulação de que o fato comprometerá o projeto europeu como um todo se outros países promoverem a realização de referendos semelhantes.

O declínio dos yields dos títulos também representa um desafio para o programa de flexibilização quantitativa do Banco Central Europeu. Devido às restrições do BCE, a entidade não pode adquirir títulos com yields abaixo de sua taxa de depósito, de menos 0,4 por cento. Cerca de metade dos títulos alemães, que respondem pela maior proporção das compras, não está qualificada para as aquisições no momento, com base no Bloomberg German Sovereign Bond Index.

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