BTG deixa passado volátil para trás e foca em gestão de recursos

Por Cristiane Lucchesi e Felipe Marques.

O Banco BTG Pactual, banco de investimento cuja área de sales and trading já foi responsável por quase metade da receita, tem uma nova mensagem para os investidores: as coisas estão ficando monótonas.

O presidente, Roberto Sallouti, tem enfatizado a mudança de estratégia nos últimos encontros com os investidores, destacando como o BTG está deixando de priorizar o trading e a área de investimentos proprietários em favor da gestão de fortunas e de recursos de terceiros. O mercado está respondendo bem: as ações do BTG tiveram alta de 57% neste ano, superando o índice Bovespa em impressionantes 49 pontos percentuais.

“É uma mudança positiva que está ajudando o banco a ter receita mais previsível ao se apoiar em negócios com ganhos mais recorrentes e sustentáveis”, disse Ceres Lisboa, analista sênior da Moody’s, em uma entrevista. “O BTG sempre terá um tempero de volatilidade nos seus resultados, pois sempre será um banco de investimento, mas tomou medidas para conter essa volatilidade,” afirmou.

O BTG abandonou quase completamente o negócio de investimentos proprietários, que arrastou a receita para baixo em R$ 1,18 bilhão em 2015 por causa de perdas com participações em empresas como a Sete Brasil Participações, de plataformas de petróleo, e a rede de farmácias Brasil Pharma. A receita com sales and trading caiu para 29% do total do banco com sede em São Paulo no ano passado, de 49% em 2016, de acordo com suas demonstrações financeiras.

Já os negócios de gestão de fortunas e de recursos de terceiros, conhecidos por seu fluxo estável de receita com comissões, estão crescendo. Essas áreas agora representam 22% da receita total, em comparação com 15% em 2017. E o BTG está intensificando os esforços para atender aos investidores de varejo por meio de uma plataforma digital. Isso ajudou os negócios a atrair entradas líquidas recordes de R$ 67,5 bilhões em recursos em 2018, já que as taxas de juros em recorde de baixa no Brasil diminuíram o interesse por títulos do governo. No ano anterior, o banco atraiu menos de um terço dessa quantia.

Em suas conversas com investidores pessoas físicas, o BTG tem aproveitado a oportunidade para vender seus próprios títulos. Os investidores de varejo, que anteriormente não detinham quase nada da dívida do BTG, agora são responsáveis por pelo menos 10% do funding total do banco, de acordo com uma pessoa familiarizada com o assunto que pediu para não ser identificada porque o número não é público.

Investimentos recentes no negócio de gestão de fundos incluem a contratação, em fevereiro, do veterano da BlackRock Inc. Will Landers para liderar a estratégia de ações e o lançamento de um novo fundo de renda variável para a América Latina. Eduardo Guardia, ex-ministro da Fazenda, se tornará o presidente da unidade até meados do ano.

Como parte do movimento para diminuir sua dependência da área de trading, o banco está planejando vender o que restou do volátil negócio de commodities. A Engelhart Commodities Trading Partners planeja recomprar a participação de 20% do BTG quando seus ganhos começarem a se recuperar, disse Sallouti em uma teleconferência sobre os resultados de fevereiro. Ele disse que tem esperanças que isso aconteça em 2019. A separação da unidade começou em abril de 2016, quando o BTG reduziu sua participação para 36%, dos anteriores 92%, com a compra da fatia pelos sócios do banco e pelos gestores da trading.

A decisão de começar a vender o negócio de commodities surgiu após a prisão do ex-presidente André Esteves em uma investigação de corrupção no final de 2015. Para sobreviver à crise, que derrubou ações e títulos do banco, o BTG também vendeu outros mais de US$ 3,5 bilhões em investimentos proprietários. E sete sócios, incluindo Sallouti, usaram uma troca de ações para assumir o controle do banco. Eles concederam ações sem direito a voto a Esteves em troca de ações com direito a voto, deixando-o como o maior acionista, com uma participação de cerca de 30%, mas fora do grupo de controle.

Esteves foi absolvido no ano passado depois que o Ministério Público disse que não havia “provas suficientes” contra ele. Desde dezembro, ele está de volta ao grupo de controle junto com outros quatro sócios.

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