Calculando o preço do zika

Por Mac Margolis.

As pessoas estão agitadas porque o assustador vírus zika, transmitido por um mosquito, está abrindo caminho por 26 países e territórios (pelo menos) do continente americano. Dá para entender a comoção: no Brasil o vírus poderia estar ligado a um alarmante surto de microcefalia, um defeito de nascimento, e em outros lugares a um distúrbio neurológico, e não há nada como a perspectiva de uma geração mutilada para desencadear pânico.

Mas, em meio ao alarme em relação à emergência de saúde pública, há outra ameaça mais discreta – prejuízos e dificuldades econômicas. Uma pergunta importante, mas ainda não totalmente formulada, subjaz à epidemia de zika: quanto esse vírus vai custar?

Ainda é muito cedo para calcular. Até o ano passado o zika, transmitido pelo mosquito Aedes, só era conhecido por surtos dispersos e por sintomas principalmente leves. Mas dá para ter uma ideia dos danos financeiros potenciais que a doença poderia causar analisando outra enfermidade transmitida pelo mosquito Aedes: a dengue.

Definir um valor em dólar para uma epidemia mundial não é fácil, considerando-se a irregularidade dos relatórios de países com sistemas de saúde precários. Mas Donald Shepard, economista da saúde da Universidade Brandeis, fez as contas e concluiu que em 2013 a dengue custou US$ 8,9 bilhões à economia mundial.

A quantia representa o preço de dar assistência às 58,4 milhões de vítimas da dengue em todo o mundo naquele ano, somado ao custo de tempo e produtividade que foram perdidos. Não é surpreendente que esse fardo tenha sido pesado para os países em desenvolvimento: os dez países (nove deles em desenvolvimento) com o maior custo agregado por causa da dengue arcaram com 82 por cento do custo mundial em 2013. A doença cobrou o preço mais alto na Indonésia, US$ 2,2 bilhões. O Brasil ficou em terceiro lugar, com US$ 728 milhões, mas, adicionando o custo da prevenção, a estimativa sobe para US$ 1,2 bilhão.

É verdade que a comparação com o zika não é perfeita. A dengue tem mais alcance mundial; a pesquisa de Shepard analisou 141 países e territórios onde houve sinais de transmissão. Há diversas cepas do vírus da dengue, que pode levar à grave e potencialmente fatal febre da dengue hemorrágica. De acordo com os cálculos de Shepard, a dengue tirou 13.586 vidas em 2013; é uma fatia relativamente pequena do número total de vítimas, mas essas mortes representam 11,9 por cento do custo econômico da doença em todo o mundo.

Também existe o preço a pagar pela disseminação de uma epidemia nova e pouco conhecida. Por mais devastadoras que sejam as conclusões de Shepard, elas não incluem o preço pago pelo turismo. Autoridades de Saúde da Austrália, da Dinamarca, do Reino Unido e dos EUA já informaram casos de zika entre pessoas que voltaram da América Latina e do Caribe. “Quando ocorrem epidemias, as pessoas mantêm distância”, disse Duane Gubler, especialista em doenças infecciosas da Faculdade de Medicina Duke-NUS em Cingapura, que escrevia recomendações de viagem para os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA.

As consequências de outras epidemias podem servir de exemplo. O número de turistas em Hong Kong caiu 68 por cento dois meses após a Organização Mundial de Saúde emitir uma advertência sobre o surto da Síndrome Respiratória Aguda Severa (SARS) em 2003 e 54 por cento na Coreia do Sul dois meses após o alerta de 2015 sobre a síndrome respiratória do Oriente Médio (MERS), de acordo com a Bloomberg Intelligence.

Com o zika, as ações das empresas de viagem já caíram “depois que autoridades de Saúde dos EUA aconselharam que mulheres grávidas ou que estejam programando uma gravidez não visitem as regiões afetadas, como Brasil, Porto Rico e Barbados”, conforme a Bloomberg Intelligence. Essa é uma má notícia para o Brasil, dominado pela recessão, e durante o carnaval, que atrai estrangeiros. O país também espera receber meio milhão de turistas nos Jogos Olímpicos em agosto, durante o inverno tropical, mais moderado, mais seco e menos favorável ao mosquito.

Poderia haver uma módica esperança financeira dentro disso tudo para o setor de seguros de viagem: a Reuters informou que a RoamRight, fornecedora líder do setor nos EUA, observou um aumento de quase 10 por cento desde dezembro nos pedidos de apólices que cobrem viagens às regiões afetadas pelo zika.

Mas esse não é um bom motivo para comemorar.

Esta coluna não necessariamente reflete a opinião do conselho editorial nem da Bloomberg LP e de seus proprietários.

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