Calmaria com real é momentânea, moeda tende a cair mais

Por Filipe Pacheco e Sebastian Boyd.

Fotógrafo: Dado Galdieri/Bloomberg
Fotógrafo: Dado Galdieri/Bloomberg

Os estrategistas de Wall Street estão alertando seus clientes a não se enganarem com a repentina calmaria do real.

Uma das medidas de volatilidade apresentou a maior queda entre as principais moedas do mundo no último mês, após atingir o nível mais alto em quatro anos em setembro. As oscilações de preço estão caindo, enquanto os pedidos de impeachment da presidente Dilma Rousseff diminuem, reduzindo o temor em relação ao caos político no Brasil.

Contudo, os analistas dizem que esse otimismo é exagerado e que a calma momentânea não muda uma perspectiva de longo prazo que inclui um possível rebaixamento da nota de crédito e uma recessão mais profunda. O real, que apresenta o pior desempenho em 2015 entre as principais moedas, continuará perdendo força até o fim deste ano, e não se recuperará até 2019, segundo os estrategistas consultados pela Bloomberg.

“O real parece caro”, disse Christian Lawrence, estrategista de câmbio do Rabobank, de Nova York. A moeda fechou a R$ 3,8494 por dólar na sexta-feira após se recuperar de uma baixa recorde de R$ 4,2478 registrada em 24 de setembro. “Deveria estar acima de R$ 4 por dólar. A piora econômica e o rebaixamento são vistos como referência para mim”.

O real caiu 31% neste ano em um momento em que a maior economia da América Latina se dirige para a contração mais longa desde os anos 1930 com aceleração da inflação e um crescente escândalo de corrupção. O índice de reprovação recorde de Dilma aumentou a oposição no Congresso e medidas de austeridade como aumentos de impostos e cortes de gastos. Com o governo em dificuldades para reforçar o orçamento, o rating de crédito do país sofreu quatro rebaixamentos desde 2014, incluindo um corte para o grau especulativo realizado pela S&P em setembro.

Dólar a R$ 4,40

É altamente provável que a classificação de crédito do Brasil seja rebaixada novamente nos próximos meses, a menos que haja uma melhora no cenário político, segundo Bernd Berg, diretor de estratégia de mercados emergentes do Société Générale. Como a melhora é improvável, a moeda poderia cair para R$ 4,40 por dólar, tornando-se barata novamente, disse ele.

“Eu prevejo que os problemas no Brasil se intensificarão, com um crescimento mais fraco e uma inflação mais elevada até o fim do ano”, disse Berg. “E eu não espero uma melhora no cenário político”.

A especulação de que o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, poderia ser substituído no início do ano que vem pelo ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles, que liderou o BC durante uma era de crescimento mais rápido e inflação menor, impulsionou a valorização recente do real. A suposição é de que ele tem mais força política para conseguir aprovações para os projetos de lei de austeridade fiscal que estão parados no Congresso.

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“A situação está emperrada no momento e o mercado vê o menor dos movimentos como uma esperança”, disse Ipek Ozkardeskaya, analista da London Capital Group em Londres, que prevê o real a R$ 4 por dólar até o fim de 2015. “Considerando que Dilma nomeie Meirelles, isso poderia resultar em um apoio político melhor e ajudaria a fazer as reformas avançarem com menos resistência”.

Como resultado dessas apostas, muitos traders se tornaram menos baixistas em relação ao real. A volatilidade implícita de três meses da moeda em relação ao dólar caiu 3,5 pontos de volatilidade (vega) no último mês, para 20,5%. O 25-delta risk-reversal, uma medida do prêmio pelo direito de vender reais sobre o direito de comprar a moeda, estava em 3,02 pontos de volatilidade (vega) na segunda-feira, com queda em relação ao nível mais alto em três anos, de 5,03 pontos de volatilidade (vega), registrado no mês passado, com base nos preços do fim do dia compilados pela Bloomberg.

Contudo, os analistas ainda não estão convencidos de que a perspectiva melhore tão cedo. Eles projetam que a moeda terminará o ano em R$ 4 e continuará perto desse nível em 2016 e 2017. E então preveem uma nova queda para R$ 4,18 no fim de 2018, antes de uma recuperação no ano seguinte.

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