Por Shruti Date Singh, Justina Vasquez e Megan Durisin.
O mercado de trigo está em chamas.
Calor extremo e seca implacável em grandes países produtores, como França, Rússia e EUA, estão reduzindo as safras globais e provocando o primeiro déficit de produção em seis temporadas. A Austrália também sofreu com a estiagem, e as condições no Canadá são heterogêneas.
O clima preocupante ajudou a elevar os preços em Chicago para o patamar mais alto em três anos e a levar os futuros de Paris ao nível mais caro desde 2013. Trata-se de uma considerável reviravolta em relação às últimas temporadas, quando colheitas abundantes provocaram uma crise prolongada para os futuros. Os hedge funds acreditam que a recuperação continuará e elevaram suas apostas no aumento de preço ao máximo desde outubro de 2012.
“A mudança drástica nos fundamentos do trigo nos últimos meses é realmente impressionante”, disse Louise Gartner, proprietária da Spectrum Commodities em New Richmond, Ohio. “A Europa não será um grande ator. Isso apenas abre as portas para as exportações dos EUA. E acho que isso apoiará o mercado até o segundo trimestre.”
As crescentes preocupações com a oferta deixaram os comerciantes extremamente sensíveis a qualquer sinal de maior limitação. Na quinta-feira, os preços em Chicago subiram cerca de 6 por cento depois que a Ucrânia anunciou que pretende limitar as remessas de trigo moído. Posteriormente, o ministério tentou esclarecer sua posição, explicando que não está discutindo “limites rígidos”, e os preços perderam quase todo o ganho e fecharam apenas 0,7 por cento acima. A inflamabilidade do mercado levou a volatilidade histórica de 60 dias para os futuros mais ativos ao patamar mais alto em seis anos.
Os hedge funds estão se posicionando para mais ganhos. Os gestores de recursos tinham uma posição líquida comprada no trigo de 52.932 contratos futuros e opções até 31 de julho, de acordo com dados da Comissão de Negociação de Futuros de Commodities dos EUA divulgados na sexta-feira. A posição, que indica a diferença entre as apostas em uma queda e em uma alta dos preços, mais que dobrou em relação à semana anterior. As posições vendidas caíram pela quinta semana consecutiva para o menor patamar desde julho de 2015.
A produção global de trigo deve cair para o menor total em três anos devido a safras menores em parte da Europa, inclusive na região do Mar Negro, e à primeira queda da produção russa em seis anos, de acordo com o Departamento de Agricultura dos EUA USDA, na sigla em inglês). Um El Niño iminente poderia aumentar ainda mais as preocupações com a produção, e a Austrália observa atentamente o padrão climático que costuma provocar clima mais seco no leste do país.
As perspectivas de produção do USDA talvez continuem otimistas demais e “longe” da realidade na Europa, disse Stefan Vogel, chefe de pesquisa sobre commodities agrícolas do Rabobank em Londres. A agência atualizará suas estimativas em 10 de agosto.
As exportações da região do Mar Negro, incluindo Cazaquistão, Rússia e Ucrânia, podem cair no próximo ano, disse Vogel.
“O mercado está muito nervoso com toda a região”, disse ele.
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