Câmbio sozinho não faz milagre

Notícia exclusiva por Josué Leonel com a colaboração de Paula Sambo.

A alta do dólar já produz efeitos preliminares de melhora no balanço de transações correntes, que vinha piorando desde 2007. Porém, se o governo vão fizer o trabalho duro de conter a inflação e o déficit fiscal, o ajuste das contas externas será insuficiente para assegurar a retomada da confiança na economia.
 

9-25-2015 12-04-43 PM

 
O déficit em conta corrente vem diminuindo gradualmente desde janeiro, após atingir recorde de US$ 104 bilhões em 2014. A balança comercial não registra déficit desde março. E, com o real enfraquecido, os brasileiros viajam menos ao exterior. Quem viaja, procura gastar menos do que fazia 2 anos atrás, quando o dólar girava em torno de R$ 2,00.

Embora o real mais fraco tenda a dar maior competitividade às exportações, a melhora da balança deve-se ainda primordialmente à queda das importações, que foram de US$ 12,8 bilhões em agosto deste ano, ante US$ 19,3 bi em agosto de 2014. O saldo melhorou porque as exportações caíram menos que as importações, não porque tenham aumentado.

Mesmo no caso das importações, parte da queda deve-se não ao câmbio e sim à recessão, projetada pelo próprio Banco Central em 2,7% para este ano. Ou seja, o brasileiro está consumindo menos produtos importados e viajando menos ao exterior também porque perdeu renda ou está com medo do desemprego, e não apenas porque o dólar subiu.

O déficit em conta corrente poderá cair cerca de 30% este ano, para US$ 70 bilhões, e para US$ 60 bilhões em 2016, diz Marcelo Kfoury, superintendente do Departamento Econômico do Citigroup no Brasil. O efeito positivo do câmbio sobre as contas externas, porém, poderá se perder se o impacto da alta do dólar na inflação não for contido.

Para medir o ganho de competitividade do exportador, o importante é a variação real do câmbio, que leva em conta a inflação. Se os preços internos em reais sobem, uma parte do ganho do exportador se esvai e o desequilíbrio das contas externas retorna.

A turbulência dos mercados, que atingiu um ápice ontem com o risco País medido pelo CDS superando 500 pontos, começou em julho quando aumentou o pessimismo com a política fiscal. A deterioração se acelerou com o anúncio do déficit para o Orçamento de 2016 e o posterior corte do rating pela S&P.

O Brasil está preso em um “equilíbrio ruim”, em que o déficit fiscal prejudica a confiança, que enfraquece o crescimento do PIB e que, por sua vez, reduz a arrecadação, piorando adicionalmente o resultado fiscal, em um ciclo vicioso que precisa ser quebrado, diz Kfoury. “Nós perdemos a bússola fiscal. E não vemos vontade política de equilibrar o orçamento”.

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