Por Isabella Cota.
Analistas de Wall Street apostam que o peso mexicano proporcionará grandes recompensas. Já a instituição com mais acertos em relação à moeda não vê motivo para entusiasmo.
Juan Carlos Rodado, chefe de pesquisa do banco parisiense Natixis, espera mais perdas após o tombo de 13 por cento do peso desde a eleição de Donald Trump. Segundo ele, o México vai sofrer se o novo presidente americano cumprir suas promessas protecionistas.
Ninguém sabe se isso vai acontecer, mas certamente não há justificativa para posições compradas em pesos, disse Rodado, campeão de acertos sobre a moeda no segundo semestre do ano passado, segundo previsões monitoradas pela Bloomberg.
A opinião dele se choca com as apostas reveladas por Goldman Sachs Group, BNP Paribas e Mark Mobius (presidente-executivo do conselho da Templeton Emerging Markets Group). Embora as previsões para o peso tenham se mostrado consistentemente erradas no passado, todas essas instituições esperam ganhos para a moeda. O raciocínio é que, mesmo com o aumento das tensões em torno da proposta de um muro na fronteira e de medidas comerciais, a desvalorização recente do peso foi exagerada e os fundamentos da economia mexicana são bem mais fortes do que sugere a taxa de câmbio. Assim, haverá correção no mercado, segundo essa ala.
“O peso mexicano deve se apreciar adiante e, apesar das incertezas no caminho e do risco alto, também será alta a recompensa”, escreveram analistas do BNP em relatório divulgado nesta semana.
Não é bem assim, diz Rodado.
“O México precisará reinventar seu modelo de crescimento, que, no momento, se baseia no comércio com o vizinho”, ele afirmou durante entrevista em seu escritório em Nova York. “Diversificar o comércio internacional leva tempo. Não é algo que possa ser feito do dia para a noite.”
As previsões otimistas pareciam ainda mais dissonantes na quinta-feira, quando o peso mudou de direção e caiu 1 por cento para 21,28 por dólar, após o presidente Enrique Peña Nieto cancelar uma reunião com Trump que estava agendada para a semana que vem. A discussão em torno do muro defendido por Trump se tornou um enfrentamento que ameaça uma das relações comerciais bilaterais de maior importância no mundo.
Para Rodado, é impossível calcular o valor justo do peso por causa da falta de clareza em relação à política comercial dos EUA. E, com tanta incerteza, a expectativa é de mais volatilidade e menos crescimento econômico. O Natixis projeta a taxa de câmbio em 22 pesos por dólar em meados de abril, 22,5 em meados de julho e 23 em meados de janeiro de 2018.
Até agora, os investidores se mostram mais pessimistas. O peso é a moeda importante de segundo pior desempenho neste ano, atrás somente da lira turca.
No mercado de futuros, as posições líquidas vendidas em pesos aumentaram por três semanas consecutivas para o maior nível desde 4 de outubro, segundo dados da Comissão de Negociação de Futuros de Commodities (CFTC).
Trump já derrubou o peso duas vezes neste ano: quando comemorou no Twitter a decisão da Ford Motor de não transferir operações dos EUA para o México e quando defendeu um “imposto de fronteira” para empresas que produzem no México e exportam para os EUA. A indústria automotiva é a que mais atrai recursos estrangeiros para o México e os EUA são destino de 80 por cento das exportações mexicanas.
Mas, na média, os analistas projetam valorização de aproximadamente 1,4 por cento do peso para 21 por dólar no fim do ano. Seria o segundo maior ganho entre as moedas importantes, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.
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