Captações recordes de empresas brasileiras pesam com alta do dólar

Por Sebastian Boyd e Filipe Pacheco.

As empresas brasileiras, inclusive a estatal Petrobras, enfrentam uma situação de risco com a desvalorização do real após terem emitido uma quantidade recorde de dívidas em moeda estrangeira. A combinação levou a presidente Dilma Rousseff a dizer, no fim de semana, estar “extremamente preocupada” com a situação.

A tomada de recursos por empresas não financeiras nos mercados externos atingiu o valor total recorde de US$ 137 bilhões no ano passado, sete vezes o nível de apenas uma década antes, segundo o Banco de Compensações Internacionais. A Petrobras, com US$ 56 bilhões em bonds em circulação, se tornou a maior emissora corporativa sem grau de investimento do mundo depois que a Standard Poor’s reduziu sua classificação, neste mês, após um movimento similar da Moody’s Investors Service.

O desempenho médio da dívida corporativa de emissores do Brasil foi o pior da América Latina neste ano, com uma perda de 13 por cento, enquanto o real registrou a maior desvalorização entre as principais moedas do mundo. Os ativos brasileiros sofreram um impacto causado pelo temor de que Dilma enfrenta dificuldades para tirar o país de sua recessão mais longa desde os anos 1930 e reduzir a inflação, que está próxima do nível mais alto em 12 anos. Apesar de alguns emissores contarem com hedges cambiais para se protegerem, ou de compensarem o real mais fraco exportando mais, outros verão o custo da dívida aumentarem enquanto os lucros em dólares diminuem.

As empresas brasileiras atualmente estão sofrendo com aquilo que os economistas Ricardo Hausmann e Barry Eichengreen chamaram de “Pecado Original” em um estudo apresentado em uma conferência do Federal Reserve em 1999. Ou seja, ao tomarem empréstimos em dólares, as empresas se expuseram ao risco de que suas moedas pudessem perder força em meio a problemas econômicos domésticos, tornando-as duplamente vulneráveis. Embora os governos de toda a América Latina tenham buscado aumentar o tamanho de seus mercados domésticos para que as empresas pudessem depender menos de financiamento externo, o crescimento das emissões brasileiras não acompanhou o ritmo das ofertas internacionais.

No mês passado, a Fitch Ratings identificou quatro empresas brasileiras particularmente vulneráveis a uma desvalorização cambial excessiva. Os bonds da Petrobras, da Centrais Elétricas Brasileiras SA (Eletrobras), ambas estatais, da Gol Linhas Aéreas Inteligentes SA e da operadora de shoppings General Shopping Brasil SA tiveram desempenho bastante ruim neste trimestre.

A assessoria de imprensa da Eletrobras disse que sua receita em dólares compensa a dívida nessa moeda. A assessoria de imprensa da Gol preferiu não comentar. A General Shopping não comentou porque estará em período de silêncio até 15 de outubro. A assessoria de imprensa da Petrobras não respondeu a uma mensagem em busca de comentário.

O real registrou na segunda-feira a maior queda entre as principais moedas após os dados evidenciarem uma desaceleração industrial na China, maior parceiro comercial do Brasil, e depois de a Fitch Ratings dizer que poderia cortar a classificação do país a qualquer momento. Enquanto a Fitch classifica o Brasil dois níveis acima do grau de investimento, a S&P reduziu o rating de crédito do país para o grau especulativo no início deste mês.

“Não acredito que seja possível encontrar uma única empresa que tivesse previsto que o dólar estaria sendo negociado nesse nível agora”, disse João Paulo de Gracia Correa, gerente de câmbio da SLW Corretora de Valores, de Curitiba, Brasil. “Nós definitivamente vemos muitas empresas preocupadas a respeito de como poderão diminuir sua exposição e se proteger o máximo possível”.

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