Carry trade desafia apostas em dólar ainda mais forte

Notícia exclusiva por Josué Leonel.

As previsões de maior enfraquecimento do real estão sendo desafiadas pela entrada de dólares para aproveitar o diferencial entre os juros no Brasil e no exterior, nas operações conhecidas como carry trade.

A Ata do Copom divulgada hoje mostrou que o aperto monetário ainda não chegou ao fim. E, mesmo após encerrar o ciclo, o BC deve manter os juros altos ainda por muito tempo, uma vez que a inflação só deve se aproximar da meta no final de 2016. O mercado de DI projeta a Selic no patamar de 13% por cerca de dois anos, com possibilidade de um pico de 14%.

Com os juros nos EUA, Europa e Japão perto de zero, a tentação dos investidores em captar recursos no exterior e aplicar em juros no Brasil é grande. Esse movimento já deixa marcas no fluxo cambial, positivo em US$ 13 bilhões em abril. Deste saldo, US$ 10 bilhões entraram pela conta financeira, o maior volume desde janeiro de 2011.

A atratividade dos juros inspira a estimativa mais otimista para o real entre os analistas pesquisados pela Bloomberg, feita pelo Rand Merchant Bank. O banco sul-africano prevê dólar a R$ 2,55 no final do ano, bem abaixo da mediana das estimativas, de R$ 3,25, e da maior previsão, de R$ 3,65.

“O carry trade é muito atrativo”, diz John Cairns, estrategista do RMB. Ele diz que tem visão particularmente positiva sobre as moedas da África do Sul e Brasil e acredita que o movimento anterior de venda de moedas de maior risco foi excessivo. A desaceleração da China, que afeta países exportadores de commodities, ’’já está no preço’’. E a alta dos juros do Fed, também tida como ameaça para as moedas de países emergentes, tende a ser gradual.

O real vem mostrando maior sustentação desde março, quando o dólar encostou em R$ 3,30 no auge do pessimismo com a crise da Petrobras e o receios de que as dívidas da empresa e do governo fossem rebaixadas. Contudo, avaliações mais positivas como a do RMB sobre a moeda brasileira ainda são minoritárias.

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Gráfico histórico do dólar desde Maio de 2014

Na pesquisa Focus, com aproximadamente 100 economistas, a mediana das estimativas aponta dólar em R$ 3,20 no final de 2015 e R$ 3,30 em 2016. Parte do mercado se junta a empresários na defesa de que o real tem de se desvalorizar mais para aumentar a competitividade da economia. O BC tem poder para definir o jogo entre os que apostam na valorização ou enfraquecimento do dólar. Podendo influenciar tanto em favor da alta, como fez na recente diminuição da rolagem de swaps, como na baixa, com os juros altos que fazem a alegria dos investidores estrangeiros em renda fixa.

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