China recupera coração industrial dos EUA e paga pouco por isso

Por Andrew Mayeda.

Durante seis anos, a fábrica da General Motors que costumava produzir o Chevrolet Trailblazer em Moraine, Ohio, ficou abandonada, um enferrujado monumento ao declínio da indústria automobilística dos EUA.

Atualmente, a fábrica está novamente em operação, impulsionada pelo ressurgimento do consumidor dos EUA — mas agora sob gestão chinesa. No chão de fábrica, supervisores chineses em uniformes azul celeste com o logotipo da nova proprietária, a Fuyao Glass, ensinam funcionários americanos a montar para-brisas.

Dirigindo pela rodovia interestadual 75, passando pelo coração industrial dos EUA, vê-se que não faltam empresas de propriedade chinesa como a Fuyao. Elas estão se estabelecendo em estados como Ohio e Michigan, que são importantes campos de batalha pelo eleitorado para novembro e nos quais as fábricas tradicionais têm sido esvaziadas — em muitos casos, pelo comércio exterior. Com a China.

São essas perdas que ganham as manchetes durante a campanha eleitoral. O candidato republicano, Donald Trump, acusa a China de ser um parceiro comercial injusto e culpa toda uma classe de políticos americanos — incluindo sua rival do Partido Democrata, Hillary Clinton — por venderem os trabalhadores dos EUA para Pequim. Trata-se de um tipo de capitalismo que dá prioridade aos EUA ferrenhamente. Toda a carreira de Hillary sugere que ela se sente mais à vontade com a globalização, embora nos últimos tempos também tenha se deixado levar pelas críticas à China e pelo ceticismo em relação ao comércio exterior.

Braços abertos

Mas longe do barulho da campanha presidencial, os governos estaduais e municipais de ambos os partidos receberam as empresas chinesas de braços abertos. Quando assumiu o controle da fábrica da GM, a Fuyao recebeu um crédito tributário de US$ 9,7 milhões de Ohio, estado governado pelos republicanos, que também contribuiu com um subsídio de US$ 1 milhão para obras rodoviárias.

“Olha, 1.700 empregos são 1.700 empregos”, disse Shawn Kane, um chef de 28 anos que fazia compras no mercado Kroger, em Moraine, no mês passado. “Pelo menos a fábrica já não está vazia”.

Mas são empregos que tendem a não pagar tão bem quanto o trabalho dos operários de antes — e provavelmente não haja muitos deles. Para manter a viabilidade de sua produção nos EUA, a Fuyao usa mais automação do que na China, disse John Gauthier, presidente da Fuyao Glass America. “Tudo o que nossos clientes querem é que os custos não aumentem”, disse ele.

Um operário da Fuyao ganha a partir de US$ 12 por hora, o equivalente a um salário anual de US$ 25.000. Os trabalhadores da GM da antiga fábrica de Moraine poderiam ganhar pelo menos o dobro disso, junto com benefícios como pensões de benefício definido, segundo representantes sindicais e ex-funcionários.

“Quando não existem proteções suficientes para os trabalhadores americanos e quando se tem uma economia globalizada, isso é o que acontece”, disse Chris Baker, representante de vendas de 40 anos que trabalha perto de Moraine. “Esse é o novo padrão de normalidade. É muito triste”.

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