China subverte mercado e minério da Índia fica sem comprador

Por Swansy Afonso.

A busca pela qualidade no mercado internacional de minério de ferro, liderada pela China, está prejudicando produtoras de materiais de menor qualidade, como a Índia, que enfrentam uma batalha crescente para encontrar compradores para suas cargas devido à queda da demanda.

Em Goa, os exportadores têm dificuldades para vender até mesmo um quarto do que despacharam no ano passado, segundo Glenn Kalavampara, secretário da Associação de Exportadores de Minério de Ferro de Goa. “Não há absolutamente nenhum mercado”, disse ele por telefone, de Panaji, capital do estado da região oeste mais conhecido pelas deslumbrantes estâncias balneárias. “A preferência pelo minério de maior qualidade é uma grande preocupação.”

Embora as exportações indianas representem apenas uma pequena fração do mercado marítimo global de cerca de 1,4 bilhão de toneladas dominado por Vale, Rio Tinto e BHP Billiton, a situação difícil dos exportadores de minério de baixa qualidade destaca a nova dinâmica. A iniciativa antipoluição da China neste inverno boreal sobrecarregou o ágio recebido pelo material de maior qualidade, que é mais eficiente. Nesta semana, a Rio Tinto observou “evidências claras” de mudança estrutural no mercado, e no início deste ano a BHP ressaltou a “nova realidade” do setor.

“Quase não há exportações”, disse R.K. Sharma, secretário-geral da Federação das Indústrias Minerais da Índia, por telefone, de Nova Déli. Sharma trabalha no setor há quase cinco décadas e em certo momento viu as exportações indianas chegarem a 100 milhões de toneladas. “Nem mesmo os goanos, que estão perto dos portos e têm os menores custos do país, conseguem vender”, disse ele.

A iniciativa da China para limpar o ar fez com que a diferença de preços entre os minérios de alta e de baixa qualidade disparasse. Na sexta-feira, o preço à vista da tonelada seca de minério de ferro com 65 por cento de teor ferroso do Brasil estava em US$ 87,20, enquanto o material de referência com 62 por cento de teor ferroso era negociado a US$ 69,35 e o minério com 58 por cento custava menos de US$ 40, segundo a Metal Bulletin.

Goa despachou metade dos cerca de 31 milhões de toneladas em exportações totais em 2016-2017 da Índia, país com padrão sazonal de comércio, considerando que o término do período de quatro meses de monções, perto do fim de setembro, normalmente gera uma retomada da atividade. Isso não aconteceu neste ano, e as mineradoras do estado, entre elas a Vedanta, exportaram apenas 680.000 toneladas de minério de baixo teor ferroso no período de dois meses desde a retomada da mineração, uma queda de 76 por cento em relação ao ano anterior, segundo Kalavampara.

A Índia aplica taxa de 30 por cento às exportações de minério com mais de 58 por cento de teor ferroso e as mineradoras pedem o cancelamento da cobrança para competirem melhor com atores internacionais. “Você sabe que a Austrália e o Brasil são agressivos”, disse Kalavampara.

“Pedimos que o governo federal considere o cancelamento da taxa, inicialmente, para minérios com até 60 por cento de teor ferroso.”

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