Chinesa Cofco supera rivais e mira aquisições por soja do Brasil

Por Tatiana Freitas e Gerson Freitas Jr.

A Cofco International superou algumas das mais antigas tradings agrícolas do mundo e se tornou uma das maiores exportadoras de soja do Brasil, líder global nos embarques da commodity. Agora, a gigante chinesa de alimentos estuda novas aquisições para avançar ainda mais no país.

A empresa avalia a compra de ativos de logística e armazéns para aumentar a sua capacidade de comprar soja diretamente do produtor, segundo Valmor Schaffer, chefe da Cofco para a América do Sul.

“Faremos investimentos cirúrgicos em áreas estratégicas”, disse Schaffer em entrevista na sede regional da Cofco, em São Paulo. A maior parte dos investimentos terá como destino o Mato Grosso, o maior produtor, responsável por um quarto da colheita nacional.

A Cofco precisou de uns poucos anos para construir uma posição que tradings centenárias levaram décadas para consolidar no Brasil. Dados de programação de navios analisados pela Bloomberg indicam que, em 2017, a empresa chinesa exportou mais do que a Archer-Daniels-Midland, a Cargill e a Louis Dreyfus — o A, o C e o D do grupo conhecido como ABCD, o quarteto que domina o comércio agrícola global. Foi a terceira maior exportadora no ano passado, atrás apenas da Bunge, a letra B, e da Marubeni, empresa com sede em Tóquio.

7 milhões de toneladas

A Cofco exportou cerca de 7 milhões de toneladas de soja do Brasil em 2017, incluindo também embarques feitos por empresas adquiridas recentemente pelo grupo chinês, segundo dados da agência marítima Williams compilados pela Bloomberg. O volume representa um salto em relação às 2,4 milhões de toneladas do ano anterior. Os números levam em conta apenas os cargas cujos compradores foram identificados pela Williams. De acordo com a Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), o Brasil exportou 68,3 milhões de toneladas de soja no ano passado.

A empresa chinesa, líder em processamento de soja na China, ainda depende de outras tradings para abastecer suas fábricas na Ásia. Para reduzir a dependência de terceiros, busca ampliar a compra de grãos diretamente dos produtores brasileiros.

“Queremos unir o produtor do Mato Grosso ao consumidor chinês”, disse Schaffer. A empresa planeja dobrar as compras agrícolas dos produtores do Estado nos próximos anos, disse. “Isso deve nos colocar em uma posição superior no futuro.”

A estratégia da Cofco abalou a tradicional cadeia de abastecimento de grãos, em que as traders atuavam como intermediárias de produtores e consumidores. A mudança ocorre em um momento difícil para o grupo conhecido como ABCD, com os preços dos grãos em níveis historicamente baixos e um período prolongado de volatilidade moderada no mercado.

“A China está apenas eliminando a concorrência na origem”, disse Alvin Tai, analista da Bloomberg Intelligence em Cingapura.

A China é a maior compradora mundial de soja, oleaginosa usada em diversos tipos de alimentos, do óleo de cozinha à ração animal. O domínio brasileiro como fornecedor da commodity cresceu nos últimos anos após uma série de safras recordes, que aumentaram a competitividade da soja brasileira em relação à dos EUA, o maior produtor mundial.

A Cofco não comentou os números da programação de navios da Williams, mas Schaffer calcula que a empresa exportou cerca de 7 milhões de toneladas no ano passado. O executivo não revela quanto foi comprado diretamente dos produtores rurais. A Bunge e a ADM preferiram não comentar sobre a expansão da Cofco e seus volumes de exportação. A assessoria de imprensa da Dreyfus informou que as compras da empresa no Brasil são “muito maiores” do que as estimadas nos dados da Williams, mas preferiu não divulgar seus números.

A Cofco colocou os pés no Brasil em 2014, quando investiu pelo menos US$ 4 bilhões em aquisições, incluindo uma fatia na divisão agrícola da Noble e da trading holandesa Nidera, que já possuíam ativos no País. Desde então, o grupo chinês tem se concentrado em integrar as equipes e a enfrentar obstáculos, incluindo uma fraude contábil de US$ 150 milhões em 2016 e acusações de trabalho análogo à escravidão, no ano passado.

Corte de custos

Nos últimos anos, a empresa se dedicou a um programa de controle de custos que a tornou mais competitiva, resultando em uma participação maior nas exportações brasileiras de soja, segundo Schaffer.

“Saímos de 2017 extremamente preparados para o desafio de suprir a demanda crescente da China e para transformar a Cofco numa empresa não só de escala, mas de retorno sobre o capital investido no Brasil”, disse.

A demanda por soja da Cofco já ultrapassa 20 milhões de toneladas anuais e deve superar 30 milhões de toneladas nos próximos anos, segundo Schaffer. A unidade brasileira é a maior fornecedora da Cofco no mundo, respondendo por mais da metade do volume consumido, considerando também as compras originalmente feitas por outros traders. Ainda assim, a empresa quer que essa participação continue crescendo.

“Precisamos ganhar escala em originação para continuar suprindo a demanda chinesa e crescendo como fornecedores dentro da nossa empresa”, disse Schaffer.

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