Chineses e alemães querem transformar Chernobyl em parque solar

Por Anna Hirtenstein.

Chineses e alemães estão entre dezenas de investidores que negociam a oferta da Ucrânia de transformar o terreno de um dos piores desastres nucleares do mundo em um gigantesco parque solar.

Treze investidores internacionais estão entre os 39 grupos que pretendem obter autorização da Ucrânia para instalar cerca de 2 gigawatts de painéis solares dentro da zona de exclusão radiativa que rodeia a usina nuclear de Chernobyl, desativada, segundo o ministro de Ecologia e Recursos Naturais, Ostap Semerak. Dois gigawatts equivalem à capacidade quase completa de dois reatores nucleares modernos, embora a energia atômica, diferentemente da solar, funcione dia e noite.

“Recebemos pedidos de empresas interessadas em alugar terrenos para construir usinas solares”, disse Semerak em entrevista por telefone de Kiev. “Não pretendemos lucrar com o uso do terreno, mas com os investimentos.”

Três décadas depois de o colapso de Chernobyl ter deslocado mais de 300.000 pessoas espalhando radiação por grande parte da Ucrânia, de Belarus e da Rússia, as autoridades continuam tentando descobrir o que fazer com o terreno, que tem o dobro da dimensão de Los Angeles, que rodeia a usina. Como a radiação permanecerá no solo durante séculos, a área não pode ser utilizada para agricultura nem silvicultura. A possibilidade de a energia solar aproveitar a infraestrutura de rede de Chernobyl surgiu em julho.

Projetos

Em novembro, as empresas chinesas GCL System Integration Technology e China National Complete Engineering afirmaram que planejam construir um projeto de energia solar de 1 gigawatt no local em várias etapas. Uma promotora alemã de energia renovável solicitou permissão para instalar 500 megawatts, disse Semerak, que não quis identificar a empresa. Os outros projetos propostos são de usinas de mais ou menos 20 megawatts.

Para a Ucrânia, um dos países mais pobres da Europa, o projeto vai além da simples recuperação do terreno. Assolado pela corrupção e por um conflito cada vez mais tenso com grupos pró-russos no leste, o governo quer fortalecer a economia com novos investimentos e atingir a independência energética fora da órbita da Rússia.

Segundo o plano da Ucrânia, as linhas de transmissão montadas originalmente para transmitir a eletricidade gerada pela usina nuclear de Chernobyl, de 4 gigawatts, serão adaptadas para a energia solar. Atualmente, o governo analisa como a rede atual pode lidar com os desafios de intermitência que a energia renovável apresenta. O Ministério da Ecologia também visa a atingir um equilíbrio entre suas ambições para a energia limpa e o impacto nas contas dos consumidores, disse Semerak.

A radiação que persiste em Chernobyl preocupa o Banco Europeu para a Reconstrução e o Desenvolvimento (BERD), que avalia se financiará os projetos solares. Empréstimos dependerão da due diligence ambiental, segundo o porta-voz Anton Usov. Os projetos teriam que ser instalados e operados de forma segura e ter viabilidade comercial para receber financiamento, disse ele.

“Para qualquer projeto de mais de 10 megawatts, seria preciso ter alguém no local quase todos os dias”, disse Pietro Radoia, analista de energia solar da Bloomberg New Energy Finance. “Quanto maior for o projeto, mais pequenos problemas cotidianos surgirão para resolver.”

As empresas que pediram autorização para instalar energia solar na zona de exclusão de Chernobyl vêm da China, da Alemanha, da Irlanda, da Dinamarca, da Áustria, da Bulgária, de Belarus e da Ucrânia, segundo Semerak.

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