Por Rebecca Greenfield.
É quase uma da tarde de uma segunda-feira recente e eu caminho 30 segundos da minha mesa até um vestiário, troco minha roupa por uma calça legging e uma regata à prova de suor, pego uma esteira de ioga e começo a meditar em um estúdio com outras três mulheres. “Esqueçam os prazos”, diz a instrutora. “Esqueçam os compromissos e as tarefas por cumprir”.
Eu tento, mas é difícil: minha mesa está tão perto que eu poderia ouvir o telefone se ele tocasse. Após uma hora de alongamentos e posturas, e sem conseguir esquecer dos meus deadlines, eu coloco de volta minha roupa de trabalho; logo estou novamente digitando no meu laptop. Esta é uma tarde normal na Primary, um novo espaço de co-working no coração de Manhattan. Por US$ 300 ao mês, eu posso ir pegar um suco verde de US$ 10 após uma aula de “vinyasa flow yoga” no meio do dia a apenas alguns passos de onde eu gerencio o fluxo da minha caixa de mensagens.
Esta é a cara do co-working em 2016, meia década após o surgimento dos primeiros espaços compartilhados. A WeWork, que popularizou o modelo, abriu seu primeiro estabelecimento em 2010 no bairro de SoHo, em Manhattan, para ocupar edifícios comerciais durante a recessão. Agora a empresa está avaliada em mais de US$ 16 bilhões (uma análise financeira interna realizada em abril reduziu as projeções de lucros e receitas de 2016).
A Deskmag — sim, o setor tem sua própria revista especializada — estima que haverá 10.000 espaços de co-working em todo o mundo até o fim do ano: se você mora em uma cidade de segunda ou terceira grandeza e ainda não há aulas de ioga no seu espaço de escritório compartilhado, fique atento. Manhattan sozinha dedica mais de 460.000 metros quadrados aos espaços coletivos, segundo a empresa de serviços imobiliários Cushman & Wakefield; e em São Francisco há 28.000 metros quadrados de espaços de co-working arrendados com essa finalidade desde meados de 2014, segundo a JLL, outra empresa de serviços imobiliários.
“O setor está maluco. O co-working era um fenômeno do ramo de escritórios. Agora há empresas de tecnologia, oficinas de fabricação, laboratórios, cozinhas comunitárias e oficinas mecânicas”, diz Steve King, da consultoria de pequenos negócios Emergent Research, de Lafayette, Califórnia. “É possível encontrar espaços de trabalho compartilhados para quase todo tipo de trabalho”.
E qualquer nicho interessa. Quando a WeWork era a única na área, as chopeiras eram suficientes para atrair o público porque, né, bebida grátis. Hoje há muito mais diferenciação. Na Primary, a ênfase está no bem-estar: programas de exercícios, kombucha (uma bebida probiótica) e lanches saudáveis, além de suculentas e trepadeiras nas mesas porque, acho eu, pessoas saudáveis curtem plantas. E qual é a vantagem de tudo isso? Comunidade! Que é aquilo pelo qual nós estamos substituindo a nossa vida fora do ambiente de trabalho. Parece que estamos transformando vida e trabalho em uma coisa só e que, de suco verde em suco verde, nós vamos acabar adorando isso.
James O’Reilly, 33, sócio-fundador da NeueHouse, um espaço de escritório compartilhado de alto padrão em Manhattan, diz que “as pessoas são mais felizes quando elas vivem o trabalho de forma mais confortável, quando se trata de algo para o qual elas não precisam se isolar”.
Colocando de outra forma, os espaços de co-working se transformaram em mundos de autosseleção, no qual um empreendedor pode ser seu “verdadeiro eu”, diz Gretchen Spreitzer, professora da Escola Ross de Administração da Universidade de Michigan, que estuda a forma como as organizações ajudam os funcionários a prosperarem.
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