Por Eric Roston.
Os negociadores sobre o clima introduziram uma carga dramática ao Acordo de Paris de 2015 ao pedir que os líderes mundiais se esforçassem para manter as temperaturas globais a apenas 1,5 grau Celsius acima dos níveis pré-industriais.
Agora, novos estudos começaram a mostrar o que o objetivo mais ajustado — em comparação com o objetivo de referência anterior, de 2 graus Celsius (3,6 graus Fahrenheit) — significa realmente. A mensagem geral deles para os representantes reunidos em Bonn, na Alemanha, nesta semana é: melhor entrar em ação logo.
“Necessitamos de uma redução incrivelmente drástica das emissões a curto prazo”, disse Zeke Hausfather, cientista do clima da Berkeley Earth. Segundo ele, o objetivo de 1,5 grau é “um pouco ridículo e pouco plausível”.
Os estudos científicos sugerem que cada ano que passa sem que as emissões globais atinjam um pico significa reduções maiores de poluição no futuro. Até agora, o mundo tem “espaço” livre na atmosfera para menos de 20 anos de emissões ao ritmo atual.
Em ensaio publicado no website CarbonBrief, Hausfather estima que se as emissões atingirem um pico em 2020, a taxa de emissões de carbono terá que cair 9 por cento ao ano até 2030. Mas se o pico tivesse ocorrido em 1995, os cortes necessários em 2030 seriam de apenas 2 por cento — e partiriam de uma base muito mais baixa.
Mas as emissões continuam aumentando. A projeção é de que em 2017 elas subirão 2 por cento, segundo pesquisadores da Global Carbon Project. O valor é muito menor do que o das taxas observadas no início do século 21, mas a direção continua errada.
Atualmente, nem os cenários mais otimistas conseguem atingir a meta de 2 graus sem supor o surgimento de uma tecnologia eficiente para extrair o dióxido de carbono do ar. Os modelos climáticos tendem a mostrar que não é realista reduzir a poluição em mais de 5 por cento ou 6 por cento ao ano, disse Hausfather. Para contornar esse ponto crucial, os modelos incorporam “emissões negativas” no fim do século — talvez o ponto em aberto mais significativo de todos os tempos.
“A ideia de que vamos depender dessa tecnologia, em grande parte desconhecida, para cumprir essas metas é um pouco preocupante”, disse Hausfather.
A temperatura mundial já subiu cerca de 1 grau Celsius desde o fim do século 19, e poderia continuar subindo. Em um exercício teórico, os autores de uma nova avaliação climática dos EUA concluíram que se o dióxido de carbono na atmosfera permanecer em seu nível atual, haveria um aumento de no mínimo 0,6 grau. Outro estudo concluiu que se todas as emissões fossem magicamente interrompidas, o planeta acabaria aquecendo entre 1,1 grau e 1,5 grau.
O principal desafio para os cientistas talvez seja o fato de que a maior fonte de incerteza tem mais a ver com as ações das pessoas que pediram que eles estudassem o problema do que com a física térmica da Terra ou com a taxa de derretimento das geleiras.
Um estudo coordenado pelo cientista suíço Reto Knutti atribui a maior imprevisibilidade aos políticos.
As políticas “atuais e propostas” no âmbito do Acordo de Paris “não condizem com o que seria necessário para atingir o objetivo de 1,5 grau ou 2 graus e até mesmo elas são politicamente difíceis”, afirmaram Knutti e coautores em um estudo divulgado em setembro. Eles descartam a ideia de que a elaboração de políticas exija mais empenho na avaliação dos rumos da temperatura e afirmam que uma maior precisão “não é necessária para eliminar esses obstáculos”.
Entre em contato conosco e assine nosso serviço Bloomberg Professional.