Cinco perguntas para a presidente do Fed, Janet Yellen

Por Timothy A Duy “Tim”.

A reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) da semana que vem inclui uma entrevista coletiva com a presidente do Federal Reserve (Fed), Janet Yellen. Estas são cinco perguntas que Timothy A. Duy, professor de práticas e diretor sênior do Fórum Econômico de Oregon, da Universidade de Oregon, faria se tivesse a oportunidade de entrevistá-la à luz dos acontecimentos recentes.

1. O que há com as condições do mercado de trabalho?

A senhora defendeu a criação do Índice de Condições do Mercado de Trabalho (LMCI, na sigla em inglês) do Fed para que funcionasse como um indicador mais abrangente do mercado de trabalho e como alternativa a um indicador estreito como a taxa de desemprego. O LMCI declinou durante cinco meses consecutivos até maio, mês da publicação mais recente.

O LCMI sinaliza que, embora a economia possa estar operando perto do pleno emprego, agora ela está se afastando dessa meta. É adequado que o Fed ainda considere aumentar as taxas de juros se seu indicador está se afastando da meta do pleno emprego? Ou a senhora determinou que o LCMI não é um indicador útil das condições no mercado de trabalho?

2. O efeito do QE foi subestimado?

Desde que o Fed iniciou e completou o processo para acabar com a flexibilização quantitativa (QE, na sigla em inglês), o dólar se valorizou, o rali do mercado acionário estagnou, a curva de yields se achatou, a atividade econômica mais ampla desacelerou e agora temos uma desaceleração na atividade do mercado de trabalho. Geralmente, todos esses são sinais de um ajuste na política monetária, mas a senhora tem dito que reduzir não é ajustar e que a política econômica continua sendo acomodatícia. Considerando esses sinais, é possível ou mesmo provável que a senhora tenha subestimado a efetividade da QE e por isso agora esteja superestimando o nível de acomodação financeira?

3. Com ou sem controle ideal?

O Fed parece decidido a atingir sua meta de inflação por baixo. Em outras palavras, o banco central está posicionando uma política de ajuste apesar de a inflação estar abaixo da meta de 2 por cento para evitar que ela ultrapasse a meta no futuro. Contudo, antes a senhora defendia uma abordagem de ‘controle ideal’ que antecipava uma superação explícita da meta de inflação para poder cumprir mais rapidamente a exigência de pleno emprego do Fed. Sob o controle ideal, parece que agora, devido à paralisação do progresso na redução do subemprego e à deterioração das condições no mercado de trabalho, o Fed deveria buscar explicitamente superar a meta de inflação mantendo uma política flexível. A senhora acredita que a abordagem de controle ideal defendida previamente está errada? Se for assim, o que fez com que a senhora mudasse de opinião?

4. Regra de Evans para todos?

O presidente do Federal Reserve de Chicago, Charles Evans, continua preocupado com os riscos de uma política econômica assimétrica. Uma inflação constantemente inferior à meta traz o risco de minar a confiança da opinião pública no compromisso do Fed de atingir sua meta. Essa perda de credibilidade restringe a capacidade de cumprir posteriormente a meta do banco central. Em contraste, a conhecida efetividade das ferramentas tradicionais de política econômica acarreta que a inflação tenha menos riscos de alta. Consequentemente, ele defende uma versão atualizada da regra de Evans (um compromisso anterior de não aumentar as taxas se o desemprego superar 6,5 por cento e a inflação for inferior a 2,5 por cento).

Isto – especialmente se somado ao apoio da senhora a uma abordagem de controle ideal para a política econômica – sugere que a senhora estaria disposta a adotar a postura de Evans. A senhora apoia a proposta de Evans de que o Fed deveria se abster de aumentar as taxas enquanto a meta de inflação não for alcançada? Por que? Ou por que não?

5. O quanto a senhora realmente se importa com o restante do mundo?

Na entrevista coletiva do FOMC em setembro, a senhora disse que achava que as forças globais eram insuficientes para restringir a trajetória da política monetária dos EUA. Em resposta a uma pergunta sobre se a “interconexão global” impedia que os EUA se afastassem das taxas de juros zeradas, a senhora disse:

“Eu ficaria muito surpresa se fosse assim. Não é assim que eu ou o Comitê vemos a perspectiva. Posso descartar completamente isso? Não, não posso. Mas, na verdade, esse é um risco negativo extremo que de modo algum está perto do centro de minha perspectiva”.

Considerando os acontecimentos dos últimos seis meses – especialmente o fato de os yields dos títulos do Tesouro dos EUA com os vencimentos mais distantes se recusarem a aumentar apesar das repetidas sugestões de ajuste monetário – a senhora reavaliou sua opinião? A senhora estima que os riscos de tal resultado sejam maiores ou menores do que em sua avaliação de setembro?

NOTA: O autor é professor de práticas e diretor sênior do Fórum Econômico de Oregon, da Universidade de Oregon, e autor do site Tim Duy’s Fed Watch

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