Por Filipe Pacheco.
Para o Citigroup Inc., traders de bonds emitidos pelos três maiores bancos do Brasil estão sendo complacentes demais.
O país corre o risco de ter seu rating reduzido para o último degrau do chamado grau de investimento pela Moody’s Investors Service, e isso significa que os maiores bancos do país também estão se aproximando de uma encruzilhada. Isso porque as notas de crédito dos grandes bancos estão alinhadas com as de seu país devido à importância dessas instituições para a economia local.
O rebaixamento do Brasil seria especialmente prejudicial para a parcela de mais arriscada desse mercado, diz Eric Ollom, do Citigroup.
O Banco do Brasil SA, o Itaú Unibanco SA e o Bradesco SA têm juntos US$ 13 bilhões emitidos em notas subordinadas. Esses títulos são classificados em um nível mais baixo do que as notas seniores, que por sua vez oferecem proteções mais fortes aos detentores em caso de calote. Os preços das notas atualmente ainda não refletem os problemas por vir, diz Ollom, chefe de estratégia global para dívida corporativa de mercados emergentes no Citigroup.
“Esse corte está precificado? Eu acho que não”, disse ele por telefone, de Nova York. “Deverá haver uma pressão causada pelos ratings”.
Ollom, que recomenda a venda das notas, aponta para os US$ 750 milhões em notas subordinadas do Banco do Brasil com vencimento em 2023, que oferece um yield de 0,9 ponto porcentual a mais do que a dívida sênior do banco. Os investidores deveriam receber um prêmio de até 1,5 ponto porcentual pelas mesmas notas, considerando a perspectiva de um corte no rating, disse ele.
Perspectiva da Moody’s
Cresce a especulação no mercado de que a Moody’s será a segunda agência de classificação a rebaixar a nota do Brasil para o limite do grau especulativo, em um momento em que a economia sofre sua maior contração em 25 anos e em meio a um escândalo de corrupção que frustra os esforços do governo para restaurar suas finanças.
A Moody’s, que se reuniu com autoridades do Brasil no mês passado, citou os problemas econômicos e a deterioração das finanças públicas quando colocou o rating Baa2 sob perspectiva negativa em setembro. O cenário para o país só piorou desde então, com a Moody’s prevendo, em um relatório de 16 de julho, que o produto interno bruto encolherá 1,8 por cento neste ano.
Na semana passada, a Standard Poor’s também revisou sua perspectiva para o rating do Brasil para negativa. O rebaixamento da S&P levaria o Brasil de volta para o grau especulativo, pois a empresa classifica o país como BBB-, um nível abaixo da Moody’s.
“Os bancos são um investimento alavancado de grande escala e, como tal, diante de uma recessão, eu vejo os bonds caros”, disse Jorge Piedrahita, CEO da corretora Torino Capital LLC, com sede em Nova York, em um e-mail.
Queda dos bonds
Os US$ 13 bilhões em notas subordinados do Banco do Brasil, do Bradesco e do Itaú tiveram perdas de 3,8 por cento nos últimos 30 dias. A queda contrasta com um ganho médio de 0,3 por cento de notas de bancos de mercados emergentes.
O Banco do Brasil e o Bradesco preferiram não comentar o desempenho de seus bonds e o possível rebaixamento.
A assessoria de imprensa do Itaú disse, em um comunicado enviado por e-mail, que o rating do banco não pode ficar acima da classificação das notas soberanas devido à metodologia da própria Moody’s, e que seu financiamento é composto principalmente por depósitos de clientes locais denominados em reais. Portanto, um possível corte no rating não deverá causar um impacto significativo no custo médio de financiamento do conglomerado, disse o banco.
Para a Babson Capital Management LLC, a probabilidade de um rebaixamento da Moody’s não é motivo suficiente para levar à venda dos bonds subordinados.
“Os principais bancos privados têm lidado bastante bem com a recessão atual e seus balanços continuam relativamente sólidos”, disseram as gerentes de recursos Brigitte Posch e Kristine Li em um e-mail.
Contudo, com a economia tornando-se progressivamente pior, é difícil ver os maiores bancos do Brasil distantes por completo das dificuldades.
“Em um contexto de recessão econômica, os bancos são os mais afetados”, disse Patrik Kauffmann, que ajuda a gerenciar US$ 11,2 bilhões na Solitaire Aquila, em Zurique, por e-mail. “Com os números de inadimplência aumentando, eles precisam realizar a baixa nos créditos e poderão precisar de injeções de capital. Como detentor de subordinados, você é um dos primeiros da fila a serem atingidos caso as coisas se tornem difíceis”.
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