Por Isis Almeida.
O Brasil está no foco da maior bolsa de derivativos do mundo em um cenário de deslocamento dos fluxos globais de soja desencadeado pela guerra comercial lançada por Donald Trump.
A CME trabalha no desenvolvimento de ferramentas de gerenciamento de risco potencial para o mercado brasileiro, disse o presidente da bolsa, Terry Duffy, em entrevista concedida na quinta-feira durante a conferência anual da Associação dos Mercados Futuros, em Chicago. O Brasil se tornou “muito proeminente” em agricultura, especialmente em soja, disse, ao mesmo tempo que as exportações americanas sentem o impacto da disputa comercial com a China.
O Brasil superou os Estados Unidos como o maior exportador de soja na temporada 2012-13, e a diferença de embarques entre os dois países aumentou ainda mais no ano passado. A disputa tarifária do “toma lá, dá cá” fez com que clientes chineses recorressem ao mercado brasileiro. Essa mudança aumentou a demanda por novos mecanismos de hedge, já que os contratos futuros da CME são usados para a soja entregue nos EUA.
“Estamos trabalhando com nosso pessoal de desenvolvimento de produtos em diferentes ferramentas de gerenciamento de risco com base no mercado brasileiro, mas não estamos prontos para fazer qualquer lançamento agora”, disse. “Estamos preocupados sobre como os grãos estão sendo exportados para fora dos EUA. Continuam indo para a China, mas começam a tomar uma direção diferente, e não direta, por causa das tarifas. Queremos garantir que os preços não sejam distorcidos. ”
A CME, que negocia contratos de referência global para os preços do milho, trigo e soja, já havia confirmado que poderia iniciar um contrato brasileiro de soja. Duffy não quis comentar sobre quais produtos estariam sendo avaliados e se a CME favoreceria entregas físicas como em seus futuros da bolsa de Chicago ou em seu mecanismo de liquidação em dinheiro usado nos contratos futuros do Mar Negro.
Os mercados de derivativos agrícolas seguem os passos do setor de energia, já que os operadores cada vez mais aceitam contratos futuros liquidados em dinheiro. A própria CME iniciou contratos de trigo e milho do Mar Negro com base nos preços publicados pela S&P Global Platts, enquanto corretores tentaram capitalizar os swaps de balcão com base em tais preços. No início deste ano, corretores suíços da SCB negociaram seu primeiro swap de arroz da Tailândia com base no índice Live Rice.
“Tudo depende se você desenvolve como um swap ou como um contrato puro de futuros”, disse Duff. “Caso desenvolva como swap, obviamente vai liquidar o produto em dinheiro, então é assim que deve olhar para ele.”