Por Brian Chappatta.
Para o mercado de títulos de renda fixa, não importa quem estará na presidência do banco central americano em fevereiro. Para eles, o Federal Reserve não se distanciará da trajetória que vem definindo há meses.
Talvez o pronunciamento de Janet Yellen no encontro anual da instituição em Jackson Hole seja o último dela como comandante do Fed. Os investidores estão de olho em seu provável sucessor. Segundo pesquisa realizada junto a economistas, o principal candidato é um conselheiro da Casa Branca chamado Gary Cohn, que já esteve no alto escalão do Goldman Sachs Group. Neste mês, os mercados foram chacoalhados por boatos de que ele sairia do governo por causa da resposta do presidente Donald Trump a uma manifestação de defensores da supremacia racial que terminou em violência. Quando ficou claro que ele continuaria no governo, os mercados se acalmaram.
No entanto, não importa se Trump nomeará Cohn ou se indicará Yellen para outro mandato. Investidores responsáveis por mais de US$ 1 trilhão em ativos de renda fixa não enxergam grandes mudanças nos planos do Fed, que, segundo eles, ainda serão norteados por um demorado processo de redução do balanço patrimonial da instituição e pela elevação dos juros. As posições deles no mercado de títulos do Tesouro americano — que movimenta US$ 14,1 trilhões — são neutras ou otimistas.
“Para mim, o Fed de Cohn e o Fed de Yellen não são tão diferentes”, disse Steve Bartolini, gestor de carteiras com foco em inflação da T. Rowe Price Group, que supervisiona US$ 204 bilhões em ativos de renda fixa. Por isso e também por causa da perspectiva para inflação e juros, “nossas carteiras neste terceiro trimestre estão bem mais focadas em acrescentar duração”.
A percepção dos investidores sobre o potencial escolhido de Trump não foi sempre tão tranquila. Quando era candidato, o bilionário atacou a condução de Yellen, acusando o Fed de manter os juros baixos para favorecer seu antecessor Barack Obama. Sendo assim, alguns especulavam que Trump nomearia alguém mais inclinado ao aperto monetário. Porém, essa abordagem agora poderia prejudicar o presidente, que tem planos de reduzir impostos, aumentar os gastos com infraestrutura e estimular as exportações. Juros mais altos poderiam fortalecer o dólar e atrapalhar esses esforços.
Cohn compartilha os mesmos objetivos e por isso os investidores estão confiantes de que ele apertará a política monetária de forma gradual. Ele comentou no passado que seria uma “expectativa muito realista” acelerar o crescimento da economia americana para 3 por cento. Um processo mais rápido de aumento dos juros poderia prejudicar esse objetivo.
No mês passado, Trump declarou que gostaria que os juros permanecessem baixos. Ele também falou que pode nomear Yellen a um novo mandato, mas que Cohn seria um forte candidato ao cargo dela.
O mercado de títulos do Tesouro refletiu as oscilações nas expectativas para os juros e para a economia. O atual rendimento do papel com prazo de 10 anos, em 2,17 por cento, é praticamente o mais baixo observado neste ano. A taxa chegou a 2,64 por cento em dezembro, a maior desde 2014.
Talvez o rendimento não ultrapasse esse patamar por muito tempo, diante da persistência da inflação baixa e do lento avanço dos salários nos EUA.
“Nosso cenário básico é que o intervalo para o rendimento do título de 10 anos seja de 2-2,25 por cento e, com o tempo, é mais provável que esse intervalo desça do que suba”, disse Robert Tipp, estrategista-chefe de investimentos da PGIM Fixed Income, que supervisiona US$ 676 bilhões. “Parece que esse Fed está bem próximo de encerrar o ciclo”, em parte porque o próximo comandante do Fed provavelmente terá uma postura mais branda, ele disse.
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