Colapso cambial do Brasil impulsiona exportadores, diz AllianceBernstein

Por Shamaila Khan.

11-17-2015 9-53-56 AM

Apesar da crise política, algumas empresas brasileiras estão em melhor situação do que estiveram em anos, disse Shamaila Khan, gerente de portfólio de mercados emergentes da AllianceBernstein, que supervisiona cerca de US$ 485 bilhões em ativos. Exportadores oferecem o melhor valor, disse Khan, em Nova York, a Carolina Wilson, do Bloomberg Briefs, em 28 de outubro.

P: Qual é o estado de espírito das empresas na AL?

R: Nós estamos positivos em relação ao cenário e o mercado emergente de dívida corporativa têm realmente superado os últimos dois anos por várias razões. Primeiro pela valorização e o retorno no spread que você consegue quando está comprando algo em empresas de mercados emergentes em comparação a empresas de mercados desenvolvidos. Há também o fato de que nos últimos anos os índices têm sido bastante favoráveis, com a emissão líquida em declínio. Isso tem sido particularmente dramático este ano com emissão abaixo de 30 por cento contra o ano passado.

A demanda institucional, particularmente no espaço de grau de investimento, tem sido realmente muito forte. Muitos investidores institucionais estão olhando para a diversidade. Estamos agora mais construtivos sobre as valorizações do mercado emergente do que estávamos em meados deste ano, mesmo que o setor esteja positivo até hoje.

P: Qual região da AL parece melhor?

R: O valor está na América Latina. Lá tem sido muito significativo. No Brasil, por exemplo, o que nós gostamos são os exportadores e as empresas que não são expostas à fraqueza doméstica. A Ásia está mais próxima de neutra, enquanto a América Latina é mais “overweight” em relação à Europa, Oriente Médio e Ásia.

P: Quais os setores que oferecem valor?

R: Grandes empresas que são exportadores nos mercados emergentes. Eles não são realmente dependentes do crescimento mais fraco dos países emergentes no momento. Eles estão realmente confiando mais em crescimento estável e eles são beneficiários da moeda em depreciação. O que tem realmente sido a nosso maior sobrecarga. Temos sido muito cautelosos sobre a mercadoria de alto rendimento no setor.

Nós sentimos que este é um ambiente onde os nomes altamente alavancados com menor liquidez estão tendo mais dificuldade para sustentar a sua estrutura de capital, considerando os preços das commodities baixos e pouca probabilidade de voltar aos níveis que estavam há alguns anos.
Dentro de commodities, o que nós gostamos são os nomes com menor custo de produção, com um forte balanço patrimonial e posição de liquidez. No espaço de energia, há alguns que achamos que são muito atraentes, porque eles têm a vantagem adicional de apoio soberano. Há alguns países específicos onde estamos realmente mais confortáveis com os fundamentos. México e Índia, por exemplo. Há definitivamente algumas empresas no Peru e Chile que nós gostamos.

P: E as empresas brasileiras?

R: Estamos “overweight” para os exportadores.

P: Onde está o risco?

R: Em alguns dos nomes que estão expostos ao crescimento doméstico no Brasil. Fizemos um esforço consciente para evitar muitos desses nomes. Nós também fizemos um esforço consciente para evitar um número de nomes que são expostos como parte da cadeia de suprimentos da Petrobras, porque achamos que esse espaço será impactado pelos problemas que a Petrobras está enfrentando. O espaço financeiro é um dos nossos setores mais underweights. Temos nos preocupado com o crescimento em muitos países de mercado emergente, portanto, não estávamos evitando os bancos nesses países onde nós acreditamos que o risco não está compensando.

P: Você se preocupa com a política do Brasil?

R: Ironicamente, o que não é tão bom para o soberano e a depreciação da moeda, é realmente muito bom para muitas dessas empresas. Como os fundamentos estão melhorando, nós entendemos que não podemos ter uma volatilidade de curto prazo em termos de preços. Mas nós realmente pensamos que, ao longo de um período de tempo, estes nomes estarão oferecendo rendimentos muito atraentes para o tipo de risco que está se tomando.

Ironicamente, o ambiente operacional para essas empresas é o melhor observado em muitos anos. A depreciação da moeda dá uma significativa vantagem competitiva.

P: Que outros países e setores você gosta?

R: Gostamos do México e fundamentalmente das empresas de lá. Neste ponto, eles realmente têm feito um bom trabalho assim como alguns nomes no Chile e Peru. Muito da exposição nos países andinos está em utilitários, que nós pensamos que tem sido um grande negócio a partir de uma perspectiva de renda fixa porque é um negócio bastante estável.

Eles têm repasses de moeda e esses títulos tem preços realmente atraentes. Nós temos algumas exposições mínimas. E em quase todos os casos eles são os produtores de menor custo com balanços realmente fortes. Mesmo em ambiente de baixa das commodities, estamos muito confortáveis que estas empresas serão os sobreviventes.

P: Você está otimista sobre a Argentina?

R: Há um monte de distorções políticas que precisam ser corrigidas, e na medida que essas correções avançarem muitas dessas distorções, eu acho, trarão oportunidades para investimento na Argentina.

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