Com mercado de cabeça para baixo, café do Brasil ganha sabor

Por Isis Almeida e Fabiana Batista.

A economia do Brasil está difícil de engolir, mas o café anda mais gostoso.

A seca nas plantações de robusta, neste ano, elevou os preços dessa variedade de café de gosto mais amargo, normalmente mais barata. Em alguns casos, esses grãos estão mais caros que os do café arábica, a variedade preferida para bebidas finas devido ao seu sabor suave, e por isso algumas torrefadoras estão alterando seus blends.

“Essa mudança pode resultar em uma melhora da qualidade do café de uma forma geral”, disse Nathan Herszkowicz, diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic). “Os grãos arábica têm um sabor mais complexo, com mais nuances de aroma e sabor”.

O mercado do país que é o principal produtor mundial foi virado do avesso porque o clima seco provocado pelo fenômeno El Niño reduziu a colheita do robusta em um quarto, enquanto as chuvas nas áreas do arábica criaram condições ideais e, por isso, é esperada uma oferta maior. Neste ano, a linhagem mais comum do robusta ficou, em média, 3,2 por cento mais cara que um tipo de arábica. A situação contrasta com o desconto de 12 por cento dos seis anos anteriores.

A Cambraia Cafés, que torra grãos verdes para que ganhem sabor, está usando menos robusta. A variedade responde por 20 por cento de seu blend tradicional vendido no Brasil, contra 60 por cento no início do ano e 80 por cento em janeiro de 2015, segundo Henrique Cambraia, dono da empresa situada em Minas Gerais.

Mudando os blends

Não é raro que as empresas brasileiras de torrefação mudem os blends quando os preços sobem muito, mas a última mudança foi mais rápida que o normal devido à grande queda na oferta do robusta.

Ao mesmo tempo, as empresas lutam contra a pior recessão em décadas. Entre os problemas do Brasil estão um déficit recorde no orçamento e a dívida crescente, escândalos de corrupção e o surto do vírus Zika, que está testando a infraestrutura de saúde do país.

Para quem compra, o gosto do café diário tem menos importância. Em uma pesquisa com consumidores realizada pela empresa Mintel em setembro, 45 por cento disseram que o preço era o mais importante na compra do café e apenas 13 por cento mencionaram o sabor.

Por causa da seca, o robusta brasileiro do Espírito Santo subiu 28 por cento nos últimos 12 meses e os preços do grão, conhecido como conilon, estão a 2 por cento do recorde de fevereiro, segundo o Cepea, um grupo de pesquisa da Universidade de São Paulo.

O robusta está, agora, 1,9 por cento mais barato que um tipo de arábica cultivado no sul de Minas Gerais, o que contrasta com um desconto de 16 por cento de quase dois anos atrás.

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