Com nova postura do BCE, Draghi volta a dar o tom dos mercados

Por Garfield Reynolds.

Mario Draghi voltou a ser a autoridade mais importante entre todos os bancos centrais do mundo.

A queda recente dos preços dos títulos em nível global talvez tenha sido acentuada pelo aumento de juros pelo Federal Reserve (o BC dos EUA) em junho, mas só ganhou fôlego depois que o presidente do Banco Central Europeu afirmou que as forças reflacionárias estão vivas na Europa, alimentando especulações de que ele logo vai supervisionar a redução das compras de títulos e, em algum momento, a alta da taxa básica de juros.

Para a BlackRock, as palavras de Draghi neste momento têm mais peso do que as de sua contraparte no Fed, Janet Yellen. A Goldman Sachs Asset Management afirma que o comandante do BCE foi quem realmente motivou o recuo do mercado de títulos. Curvas de juros, contratos de swap, desempenho das moedas e posições especulativas no mercado de câmbio também corroboram a importância do BCE no movimento global de aperto monetário.

“Observamos uma real mudança de sentimento nas últimas duas semanas e pode-se dizer que quem começou foi Mario Draghi, quando começou a falar sobre a necessidade de remover a acomodação”, afirmou Andrew Wilson, presidente da Goldman Sachs Asset Management International para Europa, Oriente Média e África, em entrevista à Bloomberg Television.

De acordo com o Bloomberg Barclays Global-Aggregate Total Return Index, os investidores de títulos sofreram perdas de US$ 681 bilhões na semana passada, a maior queda semanal desde meados de novembro, ocasião da surpreendente eleição de Donald Trump à Casa Branca. A maior parte da queda ocorreu depois que os títulos do governo alemão ficaram vulneráveis à mudança de postura de Draghi e caíram quando um leilão de títulos na França decepcionou.

Há algum tempo os mercados de renda fixa sinalizam que a Europa definirá o tom dos negócios. Em maio, a curva de juros dos títulos do governo alemão ficou mais acentuada do que a curva dos títulos do Tesouro americano pela primeira vez desde 2012.

Outros bancos centrais estão se juntando a Draghi na adoção de uma postura de menos acomodação. Assim, os preços de mercado contemplam política monetária mais apertada em todo o mundo desenvolvido, com exceção do Japão. Mesmo na Austrália e Nova Zelândia, onde os presidentes dos respectivos bancos centrais expressaram relutância em alterar as taxas básicas de juros, os contratos de swaps preveem pelo menos um acréscimo dentro de um ano.

Em uma reação mais dramática à fala de Draghi, os contratos a termo implicam agora dois acréscimos de 0,10 ponto percentual cada na taxa básica de juros do BCE no ano que vem. Em meados de junho, não havia projeção de qualquer elevação.

“Os movimentos do BCE entre agora e o fim do ano terão bem mais impacto do que os do Fed”, disse Neeraj Seth, responsável por crédito na Ásia da BlackRock, em entrevista à Bloomberg Television.

Quanto ao Fed, as cotações do mercado sugerem um ou dois acréscimos no próximo ano – ritmo mais lento do que se previa em dezembro e menos do que os próprios integrantes do banco central sinalizam.

A nova percepção também se reflete na escalada do euro, enquanto o dólar perdeu mais de 6 por cento e registrou seu pior primeiro semestre desde 2010.

Fundos de hedge e outros grandes especuladores têm se livrado rapidamente do dólar e abraçado o euro, que por muito tempo foi alvo preferido de operações a descoberto. Mesmo assim, essas apostas podem novamente funcionar como indicador de movimento contrário: Draghi talvez se coloque à frente da curva.

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