Artigo escrito por Jim Wiederhold, gerente de produtos de índices de commodities da Bloomberg.
O sentimento de incerteza no início do ano, desencadeada pelas tarifas comerciais de Trump, o boom da IA e a trajetória incerta da inflação, refletiu-se nos preços das ações, que estão se movendo em um padrão de manutenção (“holding”) próximo de seus máximos históricos. Este é um cenário muito familiar ao relembrar situações semelhantes em que as ações tiveram valuations robustos, os preços começaram a oscilar e, então, sofreram uma queda acentuada. Durante esses momentos difíceis, os participantes do mercado buscam classes de ativos não correlacionados para diversificar e enfrentar tempos difíceis. Se as tendências anteriores se mantiverem em 2025, as commodities poderão novamente superar o desempenho das ações durante um período de enfraquecimento das ações.
O índice Bloomberg Commodity Total Return (BCOMTR) está superando outras classes de ativos, subindo 5% no início do ano, enquanto as ações permaneceram estáveis. O ouro subiu 9% em direção à marca de US$ 3.000, o que mostra que há um apetite por reservas de valor e ativos reais.
Neste nosso blog do ano passado, destacamos como as commodities tendem a ter um desempenho superior em ambientes econômicos de fim de ciclo, enquanto outras classes de ativos têm um desempenho inferior. Quando outras classes de ativos sofrem com a maré, as commodities podem atuar como uma âncora em um portfólio, movendo-se no sentido contrário em um cenário de aversão ao risco. Analisando as últimas seis décadas, a Figura 1 demonstra a natureza histórica não correlacionada dos preços das commodities ante outras classes de ativos importantes encontradas em portfólios típicos. Desde 1960, houve apenas alguns casos em que as commodities tiveram uma correlação maior que 0,4 com as ações (em azul claro) – esses episódios ocorreram após grandes choques globais, como a crise financeira global e a crise da Covid. Mais recentemente, as correlações têm se movido para zero com as principais classes de ativos.

Analisando por uma lente macro histórica, houve exemplos em que os atributos exclusivos de desempenho das commodities realmente brilharam quando os mercados acionários caíram ou até mesmo se moveram lateralmente. Em 2025, valuations altos das ações, tarifas dos EUA e pessimismo do mercado são alguns dos muitos motivos para participantes reduzirem alocações em ações e diversificarem em commodities.
As commodities não têm os mesmos fatores de influência no desempenho que as ações. Commodities não dependem de estimativas de lucros ou da visão de analistas sobre o preço das ações nos próximos 12 meses. Os preços das commodities flutuam com base na situação atual. Já neste ano, há vários temas – efeitos tarifários e pico na oferta – em andamento, conforme destacado em nosso relatório Outlook 2025.
Um benchmark amplo de commodities, como o BCOMTR, teve um início de ano forte, confirmando seu papel como diversificador em um portfólio. Se as ações perderem o momentum este ano, as commodities poderão assumir o lugar, já que o momentum deflacionário parou e pode ser revertido. A Figura 2 mostra como foi o desempenho de commodities e ações durante os trimestres nos quais a inflação mais subiu nas últimas quatro décadas. Apenas um trimestre mostrou que as commodities tiveram um desempenho negativo, mas isso foi em 2022, após as commodities terem subido 25% no trimestre anterior. Analisando o início dos dados históricos do índice BCOM, nos anos 1960, as ações caíram em 16 anos e tiveram uma retração média de 14%, enquanto as commodities tiveram um retorno médio positivo de 6% ao longo dos mesmos anos de queda nas ações.

Os diversificadores tradicionais, como ativos de renda fixa, não têm se comportado como esperado desde 2021, com correlações com as ações em território positivo durante a maior parte do tempo nos últimos quatro anos. Essa é uma mudança em relação às correlações negativas típicas observadas no século passado. Outros diversificadores, como private equity, ganharam popularidade e tiveram um bom desempenho, mas não contam com a liquidez dos mercados de commodities. De modo geral, os participantes do mercado ainda estão subalocados em commodities, embora a participação tenha aumentado.
Simplesmente operar comprado em commodities ou taticamente operar comprado em exposições individuais ou setoriais a commodities tem funcionado bem recentemente, principalmente em softs, metais preciosos e gado. Às vezes, participantes avançados do mercado ganham exposição por meio de uma expressão longa/curta para se beneficiar da dinâmica de carrego entre diferentes commodities. A venda a descoberto de uma commodity em contango acentuado, como o trigo ou um metal precioso, poderia fornecer uma valorização de pelo menos 5% ao ano, com base nas curvas de futuros atuais na Figura 3.

O aumento dos preços do ouro desafia a relação tradicional entre o ouro, o dólar americano e as taxas reais. As fortes compras pelos bancos centrais, o posicionamento de futuros que subiu para perto das máximas históricas e grandes influxos de mais de US$ 5 bilhões em ETFs de ouro lastreados no ativo físico em fevereiro de 2024 ajudaram a empurrar o preço do ouro para máximas históricas, apesar dos fundamentos tradicionais. Se o ouro romper a marca dos US$ 3.000, pelo menos uma pausa no movimento dos preços poderia ser justificada.
O ouro pode continuar sua trajetória de alta, caso haja uma demanda sustentada por reservas de valor e um sentimento cauteloso no mercado. Durante tempos de incerteza, a diversificação é uma grande aliada, e ativos não correlacionados, como as commodities, podem ser o elemento de diversificação que os participantes do mercado continuam a considerar ao pensar sobre os riscos para 2025. A diversidade de setores de commodities e de commodities individuais permite que os participantes do mercado iniciem exposições compradas/vendidas com base em fatores específicos de desempenho diferenciado dentro do amplo universo de commodities, oferecendo oportunidades de expressão além da simples exposição comprada. Se as ações entrarem em um mercado de baixa após um desempenho superior de vários anos, os participantes do mercado poderiam encontrar oportunidades diversificando seu portfólio com commodities.