Como adaptar-se aos novos padrões do IFRS

Três novos padrões contábeis, parte do arcabouço do IFRS (International Financial Reporting Standards), entrarão em vigor a partir de 2018 e terão impacto direto sobre indicadores financeiros das empresas, tais como o LAJIDA (em inglês EBITDA), ou lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização. Rebecca Farmer, sócia e consultora de contabilidade financeira da EY em Londres, explica como essas mudanças afetarão as tesourarias corporativas. Este artigo foi publicado pela primeira vez no Bloomberg Brief | Tesouraria Corporativa.

Mudanças substanciais nas demonstrações financeiras vêm pela frente. Três novos padrões do IFRS, que entrarão em vigor em 2018 e 2019, impactarão respectivamente a contabilização de (i) operações de arrendamento (leasing), (ii) receitas e (iii) instrumentos financeiros. Para algumas empresas, a magnitude do impacto dos novos padrões sobre métricas financeiras importantes pode ser ainda mais significante do que a adoção inicial do IFRS.

As empresas devem considerar o efeito combinado dessas mudanças. Cada padrão ajustará de forma diferente o EBITDA, a dívida líquida e outros covenants comumente utilizados , de forma que torna-se necessário avaliar o impacto coletivo destas mudanças em covenants de dívida, esquemas de compensação de funcionários, previsões de lucro e até na comunicação de resultados ao mercado.

Por exemplo:

• O novo modelo de contabilidade de arrendamento resulta em aumento de dívida no balanço patrimonial, pois inclui obrigações do arrendamento e direito de utilização dos ativos, deterioração da razão entre dívida e patrimônio e ROA, quando comparado com a contabilidade atual de leases operacionais. Dessa forma, seria possível reconhecer as despesas relativas aos leases operacionais mais rapidamente e elas seriam recaracterizadas como despesa com juros e amortização em vez de despesa com aluguel. Esse novo modelo melhoraria o EBITDA, mas talvez exija mais informações para explicar “resultados operacionais” subjacentes, uma vez que as atuais métricas de lucro deixarão de incluir cobranças de arrendamento.

• O novo padrão de reconhecimento de receita pode adiar ou acelerar o reconhecimento de receitas e determinadas despesas na demonstração de resultados, tendo impacto direto sobre o EBITDA e pressionando KPIs e covenants.

• O IFRS 9 Financial Instruments pode causar impacto positivo sobre capital de giro e lucros graças à flexibilidade que ele proporciona em termos de gestão de riscos financeiros, de como são administrados e dos instrumentos usados nessa gestão. O efeito desse impacto seria a redução da volatilidade nas demonstrações de resultado, permitindo que as entidades projetem melhor seus lucros e fluxos de caixa. Contudo, esses benefícios podem ser parcialmente ofuscados pela necessidade de reconhecimento da diminuição do valor contábil de ativos financeiros de modo acelerado.

O papel do tesoureiro

Uma função importante do tesoureiro é avaliar se covenants financeiros existentes precisam ser revisados. Alguns covenants se baseiam estritamente na norma contábil GAAP [Generally Accepted Accounting Principles], o que representaria a necessidade de dois livros contábeis.

Quando covenants se baseiam em métricas revisadas de EBITDA ou dívida líquida, é benéfico considerar o impacto conjunto dos três novos padrões.

O EBITDA pode melhorar com a alteração na contabilidade do arrendamento, mas uma mudança no perfil de reconhecimento de receita talvez tenha efeito oposto.

Devido ao novo padrão para o arrendamento, a administração da empresa pode decidir parar de fazer arranjos de sale e leaseback, exigindo identificação e negociação de diferentes fontes de financiamento para garantir a eficiência da gestão de liquidez em um grupo – processo que pode ser dificultado pela decisão do Reino Unido de sair da União Europeia.

À medida que os custos financeiros associados aos contratos de arrendamento operacional ficam mais transparentes, as empresas podem optar por alterar sua estrutura de capital, fazendo com que novas fontes de capital se tornem o foco do tesoureiro.

Os tesoureiros devem apoiar equipes de finanças com a definição de taxas de desconto adequadas para calcular o valor presente das novas obrigações de arrendamento, que, sob as novas regras, torna-se uma atividade mais complexa.

Quanto aos instrumentos financeiros, os tesoureiros têm uma oportunidade real de acessar benefícios consideráveis e agregar valor em um ambiente de mercado marcado pela incerteza. Faz sentido revisar a prática atual para capitalizar em cima das mudanças de padrão e ter consciência de todos os benefícios — seja redução de custos, de volatilidade nos lucros, do risco ou da complexidade.

A magnitude da mudança não pode ser subestimada. Vai exigir uma abordagem holística com a formação de equipes de projeto de funções cruzadas para incorporar stakeholders fundamentais, a fim de garantir uma transição suave e eficiente. As equipes de finanças precisam se engajar agora com outras áreas, incluindo tesouraria, jurídico, tecnologia de informação, suprimentos, vendas, fiscal / tributário, patrimônio, auditoria interna, compliance, gestão de risco e relações com investidores para assegurar a aplicação e a comunicação bem sucedida dos resultados financeiros.

No fim, a melhor forma de evitar surpresas desagradáveis e erros que podem custar caro é se planejar para as mudanças o quanto antes.

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