Como é tarde demais para vender, JPMorgan e Aberdeen não abandonam o Brasil

Por Ye Xie e Emma Orr.

Após sofrer os piores prejuízos com bonds no mundo, os investidores estrangeiros podem ser perdoados por se sentirem decepcionados em relação ao Brasil.

Contudo, apesar das dificuldades a maioria deles não abandona o país, segundo os dados mais recentes do Tesouro do Brasil. As posições dos investidores internacionais em notas em moeda local do país mudaram pouco, permanecendo em R$ 488 bilhões (US$ 129 bilhões) em setembro, quando o Brasil foi rebaixado para o grau especulativo e o real atingiu uma mínima recorde. Neste ano, o montante que eles mantêm no país na realidade aumentou 20 por cento, mesmo após os títulos perderem 28 por cento de seu valor em dólares, maior declínio entre os bonds domésticos dos principais mercados.

Viktor Szabo, da Aberdeen Asset Management Plc, é um dos investidores que resistiu ao impulso de fugir no momento em que o Brasil sofre com a pior recessão em 25 anos, com a alta da inflação e com uma crise política. Desfazer a operação agora apenas pioraria as coisas, disse Szabo, porque poderia significar perder a chance de recuperar os prejuízos quando o declínio econômico finalmente frear o aumento da inflação.

A liquidação da dívida local do Brasil é uma das grandes razões pelas quais o Aberdeen Emerging Markets Debt Local Currency Fund, de Szabo, havia perdido 12 por cento neste ano até 4 de novembro, mais do que o declínio de referência de 10,6 por cento.

“Está caro sair agora”, disse ele. “Você pode esperar um pouco de volatilidade, mas há argumentos suficientes para manter a operação”.

Razões para permanecer no país

Pierre-Yves Bareau, que supervisiona US$ 43 bilhões em investimentos como chefe de dívidas de mercados emergentes da unidade de gestão de ativos do JPMorgan Chase Co., concorda.

“Já vimos muito estresse”, disse Bareau. “Agora parece ser tarde para entrar em pânico”.

O Brasil respondeu por 10,7 por cento dos ativos do fundo em moeda local de mercados emergentes de US$ 2,3 bilhões do JPMorgan até 30 de setembro, seu maior investimento, segundo o site da empresa. O fundo perdeu 12,5 por cento neste ano, mostram dados compilados pela Bloomberg.

As taxas de juros relativamente altas da dívida local do Brasil são outra razão pela qual investidores estrangeiros como Bareau e Szabo relutam em deixar o país. Com um yield médio de 15,4 por cento, os títulos são baratos demais para deixar passar em um mundo no qual US$ 5,6 trilhões em títulos do governo oferecem retornos abaixo de zero.

“Quando você tem um país que oferece yields de dois dígitos nos bonds curtos e a capacidade de proteger-se da exposição cambial, faz sentido” manter dívidas brasileiras, disse Marcela Meirelles, diretora-gerente de pesquisa de entidades soberanas de mercados emergentes da TCW Group Inc. Ela preferiu não revelar sua estratégia de investimento.

Perspectivas dos investidores estrangeiros

O real caiu 30 por cento neste ano em relação ao dólar, maior declínio dos mercados emergentes, em um momento em que a presidente Dilma Rousseff tem dificuldades para se esquivar dos pedidos de impeachment e no qual a economia caminha para aquela que poderá ser a contração mais longa desde a Grande Depressão. A Standard Poor’s, que retirou o grau de investimento do país em setembro, prevê que a economia encolherá 2,5 por cento neste ano e 0,5 por cento em 2016.

Considerando a perspectiva sombria, investidores como Jim Barrineau, da Schroder Investment Management, estão contentes por manterem a dívida local do Brasil ao alcance.

“O problema é que a moeda do país provavelmente se depreciará estruturalmente ao longo do tempo”, disse Barrineau, diretor de renda fixa latino-americana na Schroder, de Nova York. “É difícil argumentar que o melhor é permanecer a longo prazo”.

Contudo, para os investidores estrangeiros que mantêm quase um quinto da dívida doméstica do Brasil, a perspectiva não é totalmente ruim. A severidade da crise econômica fez os analistas consultados pelo Banco Central preverem que a taxa de inflação cairá para 6,5 por cento — o teto da faixa-meta estabelecida pelo governo — nos próximos 12 meses, contra 9,5 por cento em setembro.

“Os investidores estão concedendo ao Brasil o benefício da dúvida”, disse Pablo Cisilino, gestor de recursos da Stone Harbor Investment Partners LP, que supervisiona US$ 35 bilhões em ativos de mercados emergentes, incluindo bonds do Brasil.

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