Por Ian King e Christiana Sciaudone.
Antes considerado o futuro grande motor do crescimento para a indústria de smartphones, o Brasil agora está em declínio. Com a retração econômica e o desemprego em alta, muitos brasileiros estão se contentando com celulares mais básicos. Eles acham o custo de um smartphone proibitivo, particularmente quando levam em consideração as tarifas cobradas pelos pacotes de dados.
Uma possível solução vem de uma inovação técnica feita pela AT&T há meio século. O governo brasileiro está trabalhando com empresas locais e com a Qualcomm, a maior fabricante de chips para telefones celulares do mundo, em uma versão moderna dos telefonemas gratuitos. Um novo sistema estilo 0800 para os dados móveis permite que os brasileiros acessem suas contas bancárias gratuitamente nos smartphones sem arcar com os custos dos dados. O governo de São Paulo planeja estender os serviços de dados gratuitos a alguns sites oficiais até o fim do ano.
O Banco Bradesco, um dos maiores bancos do país, começou a explorar um programa de dados gratuitos após observar que muitos clientes haviam deixado de usar o aplicativo da empresa e estavam recorrendo novamente aos serviços bancários tradicionais, como o atendimento por telefone e as visitas ao caixa. Uma pesquisa com esses clientes apontou que eles não podiam pagar os planos de dados e que não tinham acesso a conexão wi-fi no horário de trabalho, quando os bancos estão abertos. O Bradesco se uniu à gigante da tecnologia Qualcomm e juntos passaram um ano negociando com as quatro principais operadoras de telefonia celular do Brasil. O banco adquiriu pacotes de dados no atacado e começou a introduzir o programa em 2014. Os clientes do Bradesco podem conferir o saldo, transferir dinheiro e pagar contas sem adquirir um plano de dados. “A resposta foi excelente”, diz Maurício Minas, vice-presidente do banco.
O Bradesco cadastrou quase 7 milhões de seus 26 milhões de clientes com contas-correntes nos serviços móveis da empresa, diz Minas, contra 4 milhões no fim de 2014. O número de transações móveis no primeiro semestre de 2015 duplicou na comparação com o mesmo período do ano passado e o banco espera que os volumes continuem dobrando a cada ano. Cerca de 35 por cento de todas as transações serão iniciadas por meio de celulares até o fim de 2015 e essa fatia deverá subir para 40 por cento no ano que vem, estima Minas.
O serviço do Bradesco no Brasil não é uma iniciativa filantrópica. Além de criar um incentivo para atrair novos clientes, ele sai mais barato para a empresa do que a contratação de mais funcionários para as agências e para o call center. Cada atendimento no caixa custa mais de US$ 4 ao banco, enquanto uma transação on-line custa centavos, segundo um estudo encomendado pela Qualcomm. “Essa solução se paga facilmente”, diz Minas.
Carteira de motorista
Felizes por evitarem as filas dos bancos, os brasileiros poderão em breve ser poupados de um segundo inconveniente comum: a obtenção da carteira de motorista. O governo do estado de São Paulo está desenvolvendo um aplicativo chamado Poupatempo que visa a acelerar o processo de solicitação da carteira de habilitação ou da cédula de identidade. O estado investirá pelo menos R$ 30 milhões (US$ 9 milhões) por ano no desenvolvimento do serviço e quer garantir que as pessoas o utilizarão. “A maioria não acessa o serviço on-line por causa do custo associado aos dados”, diz Aldo Garda, coordenador de tecnologia da informação do governo do estado.
São Paulo está negociando com as quatro maiores empresas de telecomunicações do Brasil a compra de dados em nome dos moradores do estado. O governo espera economizar algum dinheiro levando as pessoas que usam os call centers, que são mais caros, para os serviços on-line, diz Garda. Ele espera uma redução de 50 por cento nas visitas a unidades do governo em dois anos se o aplicativo for bem-sucedido. Considerando os recentes problemas econômicos em todo o país e os cortes iminentes nos gastos do governo, o qualquer economia que puder obter seria uma boa noticia.
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