Por Marisa Castellani e Josue Leonel com a colaboração de Davison Santana.
O mercado espera que a disputa eleitoral aumente a volatilidade dos ativos brasileiros no curtíssimo prazo, ainda que sem trazer de volta sintomas de disfuncionalidade como os observados em maio e junho. Para os analistas, o dólar pode subir mais, enquanto a bolsa e os juros tendem a sofrer, mas sem pânico.
Embora alguns profissionais não descartem desdobramentos mais drásticos, em geral os analistas acreditam que o estresse dos meses anteriores representou um movimento de busca de proteção que já incorpora a maior parte dos riscos. Além disso, o Brasil tem contas externas positivas e tanto o Banco Central quanto o Tesouro já mostraram capacidade de ação em outras situações.
Como as eleições começam a entrar na fase mais importante até agora, diante da definição das candidaturas e início das campanhas no rádio e TV, o risco de grande sobressaltos seria limitado pelo fato de os investidores estarem agora menos expostos. O mercado já teria precificado em grande parte aquele que é considerado o pior dos cenários para o investidor: um segundo turno entre Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT). Passado o primeiro turno, a tese é de que as incertezas diminuirão.
“A volatilidade vai acontecer, não uma disfuncionalidade”, diz Daniel Weeks, economista-chefe da Garde Asset. O cenário pode evoluir para uma posição mais pessimista caso o PT passe muito à frente do Bolsonaro, por exemplo. Já se Geraldo Alckmin, visto como o mais pró-reformas, for para o segundo turno, haverá rali, afirma o economista. “O problema é quando todo mundo está de um lado e acontece um evento inesperado. Mas o mercado se preparou para um cenário de segundo turno Haddad X Bolsonaro e isso se reflete nos preços.”
Para Carlos Kawall, economista-chefe do banco Safra, os gestores, de modo geral, estão com posições mais leves nos ativos, com bem menos risco do que em maio e junho. O investidor também tornou-se menos otimista com as chances de um candidato de centro, diz, o que já está embutido nos preços atuais e reflete um mercado mais equilibrado. Para ele, o dólar poderia tanto atingir entre R$ 4,50 e R$ 4,80 – em cenários mais negativos – quanto ceder a entre R$ 3,50 e R$ 3,20 num desfecho mais favorável, mas o mercado não repetiria a disfuncionalidade vista de maio a junho.
Para Ilya Gofshteyn, estrategista do Standard Chartered Bank, os ativos brasileiros podem sofrer nova rodada de pressão se ficar claro que um candidato de esquerda, como Haddad ou mesmo Ciro Gomes, vencerá as eleições. Ele acredita que o dólar pode chegar a R$ 4,30, mas altas acima destes níveis tendem a ser evitadas, já que o candidato vencedor tenderá a moderar seu discurso para reduzir as pressões.
Outra linha de defesa que poderia evitar maior deterioração do mercado vem do Banco Central. Na turbulência que se seguiu à greve dos caminhoneiros, em maio, o BC fez atuações pesadas com swaps cambiais para evitar uma explosão dos preços. O presidente do BC, Ilan Goldfajn, chegou a dizer que poderia vender até mais do que os US$ 100 bilhões ofertados pelo seu antecessor, Alexandre Tombini, para conter a volatilidade do dólar se necessário. E, além dos swaps, restaria ainda ao BC a arma da alta dos juros, diz Gofshteyn, do StanChart.
O grosso do salto do dólar já deve ter ocorrido, ainda que valores mais altos ainda possam ser atingidos dependendo da reação do mercado ao resultado da eleição, diz Pablo Spyer, diretor de operações da Mirae Asset. Segundo ele, há uma resistência “muito grande” do dólar em R$ 4,25.
Já Solange Srour, economista da ARX Investimentos, acredita que não se pode descartar a ocorrência, novamente, de uma disfuncionalidade no mercado, tanto porque o ambiente externo tem estado mais avesso a emergentes, quanto pelo fato de que, no cenário Bolsonaro X Haddad, “não é óbvio o que vencedor faria após ser eleito”.
Para ela, a probabilidade de um mercado disfuncional se repetir “é média, como numa moeda, 50%”. Isso poderia acontecer se Haddad ganhasse e cumprisse tudo o que está dizendo – o que contraria o receituário de reformas estruturais profundas – ou se Bolsonaro e seu provável ministro Paulo Guedes não tivessem capacidade política de engajar os parlamentares nos seus planos.
O Brasil está vulnerável, mas não é a próxima Turquia, afirmam Marijke Zewuster e Georgette Boele, do ABN Amro, em relatório no qual o banco mantém previsão de dólar a R$ 3,70 no final do ano, substancialmente abaixo do patamar atual de R$ 4,10. A economia brasileira apresenta um pequeno déficit em conta corrente e fortes fluxos positivos de investimentos estrangeiros diretos, ao contrário da Turquia.
Exatamente pela perspectiva de volatilidade, analistas têm recomendado diversificação de investimentos e posições de pouco risco, mas sem tirar a atenção de oportunidades que podem aparecer conforme o cenário eleitoral se desenhar e exigir uma ação rápida para ganhos maiores. “Até porque os cenários são binários, a diversificação é a indicação”, diz Richard Wahba, diretor geral, da Garín Investimentos. “Estamos esperando, não estamos nos posicionando, estamos no equilíbrio.”
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