Por Milana Vinn e Laura Blewitt.
A cada dia, dezenas de navios de petróleo — alguns medindo o equivalente a cinco campos de futebol — navegam para portos ao redor do mundo carregando milhões de barris de petróleo e um pedaço de papel que gerações de capitães consideram tão valioso quanto as cargas que transportam.
O conhecimento de embarque é o documento que verifica a propriedade de uma mercadoria que pode valer mais de US$ 122 milhões por navio. Sem ele, compradores e vendedores que negociam diariamente US$ 2,7 bilhões de petróleo não podem fazer negócios em um mercado de petroleiros oceânicos que fornecem quase metade do petróleo consumido globalmente.
Mas alguns dos maiores produtores, traders e bancos querem acabar com o sistema do conhecimento de embarque e também com outras formas demoradas de manutenção de registros necessárias para cada transação. Para cortar custos e lidar com margens de lucro mais apertadas, o setor está observando os métodos usados para rastrear e verificar criptomoedas como o bitcoin usando um livro-razão on-line e compartilhado conhecido como blockchain.
“A forma de fazer nossas transferências de títulos e a execução pós-transação demanda muita papelada”, disse Alistair Cross, chefe global de operações da Mercuria Energy Group. “E a papelada não evoluiu muito nas últimas centenas de anos.”
O apelo do livro-razão on-line é o fato de as transações serem registradas por meio de criptografia para garantir a segurança e permitir que o histórico de cada transação seja visualizado pela rede de usuários. Apesar de a maioria dos traders de petróleo usar tecnologia digital para armazenar seus próprios dados, o blockchain força compradores e vendedores a trabalharem a partir do mesmo livro de registro. Isso cria mais transparência e elimina idas e vindas de boa parte da documentação, e também as pessoas que lidam com ela.
Trabalho conjunto
Um consórcio que inclui as produtoras de petróleo BP, Royal Dutch Shell e Statoil, as traders de commodities Gunvor Group, Mercuria e Koch Supply & Trading e os bancos ING Groep, ABN Amro Bank e Société Générale está desenvolvendo uma plataforma baseada em blockchain para transações físicas de petróleo.
As instituições já testaram o sistema com um navio de petróleo vendido três vezes antes de o embarque físico chegar ao proprietário final, a China National Chemical. A verificação das transações demorou 25 minutos, contra um período normal de três horas, informou a Mercuria. E o processo eliminou o risco de erros de rotina, que levam ainda mais tempo para serem resolvidos.
“No nosso campo, há pessoas gerenciando transações em todo o mundo”, disse Souleïma Baddi, diretora-gerente e responsável adjunta de comércio de commodities do Société Générale na Suíça. Com um sistema de blockchain, “as pessoas desempenharão tarefas imediatamente — diretamente pelo telefone ou pelo iPad onde realizam o trabalho” — em vez de depender dos outros para coletar a papelada necessária, disse Baddi.
Trabalhadores desnecessários
Trabalhadores administrativos podem passar horas buscando documentos de contrapartes necessários para fechar cada contrato e um erro pode ser causado por uma mancha em uma fatura escrita ou uma data ou local inseridos incorretamente. Com o blockchain, muitos desses trabalhadores não seriam necessários.
“Esses empregos claramente serão afetados”, disse Anthony van Vliet, diretor global de financiamento de comércio de commodities do ING Groep, por telefone, de Amsterdã. “Se no fim houver economias, significa que é possível fazer o mesmo trabalho com menos gente.”
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