Compromisso a fazer ‘o que for preciso’ de presidente do BCE completa três anos demonstrando ser suficiente

Por Simon Kennedy e Alessandro Speciale.

Poucos se lembram do que Mario Draghi disse depois, mas ele manteve sua palavra.

Três anos depois do seu compromisso ad hoc de fazer “o que for preciso” para salvar o euro, o presidente do Banco Central Europeu honrou a declaração que seguiu: “e acreditem em mim, será suficiente”.

A Grécia continua dentro do bloco da moeda única, a economia geral da zona do euro está se fortalecendo e os mercados financeiros estão calmos apesar do surto recente de agitações vindo de Atenas. O bond da Espanha a dez anos agora tem um yield de menos de 2 por cento, em comparação com quase 8 por cento em julho de 2012.

O desfecho foi que Draghi sustentou suas palavras com ações e assim fez “suficiente” para manter o euro com vida, mesmo tendo se desvalorizado 9 por cento frente ao dólar neste ano.

Ele criou o programa de Transações Monetárias Definitivas (TMD), o qual – apesar de nunca utilizado – funcionou para mitigar o risco de contágio quando a Grécia voltou a estourar. Os mercados também foram anestesiados porque ele quase zerou as taxas de juros e finalmente persuadiu seus colegas a aderirem à flexibilização quantitativa.

Buscando proteger sua economia de 19 países, Draghi transformou o BCE, que passou de ser um banco central que só reage aos fatos a um pró-ativo e moderno. A instituição que em 2008 e 2011 subiu as taxas de juros mesmo diante de uma economia em recessão e se focava exclusivamente na inflação deixou de existir.

Medidas não convencionais

Apesar de que alguns na região, especialmente na Alemanha, tenham empalidecido frente a seus esforços, Draghi também recebeu apoio legal para eles. Recentemente, o Tribunal Europeu de Justiça outorgou ao BCE “autoridade ampla” para determinar quais medidas são apropriadas a fim de salvaguardar a moeda única, incrementando seus poderes para agir de forma não convencional.

Para achar a evidência mais recente de que o espírito de julho de 2012 continua vivo, basta olhar com a disposição de Draghi neste mês de instar os colegas a aumentarem a ajuda emergencial para os credores gregos e sua declaração de que o BCE atua “na hipótese de que a Grécia continuará integrando a zona do euro”.

Segundo Huw Pill, economista-chefe do Goldman Sachs Group Inc. para a Europa e ex-funcionário do BCE, a lição é que Draghi fará o que puder para preservar a integridade do euro. Se a Grécia for embora, será porque são os políticos, e não os banqueiros centrais, os que decidem.

Preço

É possível que um preço ainda deva ser pago se os investidores começarem a perguntar o quanto o BCE prolongará seu mandato ou se sua disposição a ser flexível leva os políticos a adiarem a tomada das decisões duras necessárias para que o euro prospere.

“Onde um banco central que atua dessa maneira vai parar?”, disse Ulrich Leuchtmann, diretor de estratégia cambial do Commerzbank AG, aos clientes em um relatório recente depois que Draghi surpreendeu seus colegas apoiando um aumento na ajuda aos credores gregos.

Para Draghi, o desejo continua sendo que o peso por preservar o euro sobre suas costas diminua. Recentemente, ele disse que a união monetária que ele ajuda a administrar “é imperfeita, é frágil, é vulnerável e não cumpre com o prometido” e instou os governos a trabalharem mais duramente para salvaguardar seu futuro.

“Draghi é o verdadeiro presidente da Europa”, disse Philippe Gudin, economista-chefe do Barclays Plc para a Europa em Paris.

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