Confiança do mercado no governo resiste

Por Josué Leonel com a colaboração de Mario Sergio Lima.

Com o país entrando na reta final do impeachment, o governo faz um esforço para manter a confiança dos investidores. Em um sinal de que este esforço tem sido bem-sucedido, o risco Brasil cai, acompanhando o fortalecimento do real. O CDS brasileiro acumula queda de mais de 240 pontos este ano, superando a baixa registrada pelo risco de outros países emergentes de porte comparável. O mercado parece comprar a tese de que, após o impeachment, o governo terá mais forças para tocar as prometidas e ainda não iniciadas reformas e privatizações.

As agendas de membros da área econômica do governo mostram recentemente uma concentração de encontros com bancos e investidores. O objetivo, segundo analistas ouvidos pela Bloomberg, é o de alinhar as expectativas do mercado quanto às políticas fiscal e monetária.

No caso da política fiscal, economistas do mercado que tiveram contatos com autoridades do governo relatam um esforço para mostrar que o compromisso com o ajuste está intacto, apesar de incidentes recentes como o da votação da dívida dos estados, quando o governo sofreu críticas por fazer concessões.

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O governo de Michel Temer, embora mais forte do que o de Dilma, não tem uma “força avassaladora” o suficiente para aprovar as reformas na velocidade desejada por parte do mercado, diz o economista Roberto Padovani, do banco Votorantim. No entanto, o governo Temer tem uma direção clara, rumo ao ajuste fiscal. E o mercado, segundo Padovani, entende que há maior unidade entre os membros da equipe econômica hoje do que no governo Dilma.

O governo tem procurado mostrar que as concessões foram parte da “regra do jogo” político e não um sinal de falta de empenho pelo ajuste, diz Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset Management. Para Vieira, a queda do risco Brasil e do dólar este ano reflete a confiança de que o governo prosseguirá com as reformas após o impeachment, embora o ritmo só deva se acelerar depois das eleições municipais. Para Vieira, antes da reforma da Previdência, será fundamental a aprovação do teto dos gastos públicos. Este será “o primeiro grande ponto” do ajuste fiscal, diz o economista.

Para Juliano Ferreira, estrategista da Icap do Brasil, o principal foco dos encontros da equipe econômica é melhorar a comunicação. A comunicação do governo com o mercado foi foco de reclamações frequentes de analistas dos bancos nos anos anos anteriores. Um ponto que o economista considera importante é que tanto a Fazenda, que foca no ajuste fiscal, quanto o BC, que trata mais da política monetária, têm procurado não apenas falar nas reuniões, mas também ouvir o mercado. “Os ajustes necessários na economia não são triviais. Por isso, é importante esta comunicação”.

Entre os analistas do mercado, é unânime a ideia de que boa parte da valorização do real e de outros ativos brasileiros se deve ao adiamento da alta dos juros americanos , que leva o investidor estrangeiro a buscar ativos de maior risco. Vieira, da Infinity, contudo, observa que o dólar poderá seguir em queda mesmo quando a alta dos juros do Fed se concretizar. Quando a alta ocorrer, ela deve estar bem precificada pelos mercados, pois o Fed costuma sinalizar bem os seus passos, diz o economista.

O ministério da Fazenda disse por e-mail que não iria comentar informações da Bloomberg sobre encontros da equipe econômica com representantes do mercado. O Banco Central, por sua vez, respondeu que não comenta análises de mercado.

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