Contabilização de Hedge - Fundamentos

Nos anos 1990, o Financial Accounting Standards Board (FASB) – organização criada para padronizar procedimentos de contabilidade financeira – passou a exigir que derivativos fossem avaliados a valores justos de mercado (fair value), como ativos ou passivos nos demonstrativos das companhias, para aumentar a transparência nas finanças corporativas. O FAS 133, padrão de contabilidade que exige essa forma de contabilização nos EUA, foi estabelecido em 2000. No Brasil, a adoção das normas internacionais de contabilidade IFRS (que também possuem padrões para contabilização de hedge) realizou-se através da Lei 11.238/2007, e a norma que rege esta forma de contabilização é o CPC 38 (IAS 39).

O cumprimento dessas normas usando apenas preços de mercado deixa muito a desejar nos balanços corporativos, então o FASB permite que as companhias escolham realizar contabilização de hedge, o que reduz a volatilidade dos demonstrativos tratando um investimento (objeto de hedge) e um derivativo (objeto de hedge) como uma coisa só. A contabilização de hedge apresenta vantagens claras, porém carrega em si um elevado grau de complexidade.

Exposições, instrumentos e tipos de coberturas

Existem três categorias de ativos principais para as quais as companhias podem usar a contabilização de hedge:

  • Exposição a moedas estrangeiras. As empresas podem usar a contabilização de hedge para exposições a certos tipos de transações, como compras, lucros e gastos previstos em moedas estrangeiras. Elas também podem usar essa ferramenta para ativos e passivos em moedas estrangeiras, mas não para conversão de uma moeda estrangeira em moeda doméstica.
  • Exposições a taxas de juros. Isso inclui taxas fixas previstas de empréstimos e taxas variáveis de ativos e passivos. Também inclui ações e dívidas corrigidas.
  • Exposições a commodities. Inclui compras, vendas e estoques previstos.

A contabilização de hedge deveria reduzir o risco de exposição (objetos de hedge, nos demonstrativos contábeis) de uma companhia. Nem todos os derivativos (instrumentos de hedge) se qualificam para contabilização de hedge. Há três modalidades principais de derivativos aceitos como instrumentos de hedge: contratos futuros, opções, contratos a termo e swaps.

Também existem três tipos de coberturas que se aplicam à contabilização de hedge:

  • Hedge de fluxo de caixa. Reduz o risco de mudanças de valor em uma avaliação justa de fluxos de caixa futuros.
  • Hedge de valor justo. Reduz o risco de mudanças de valor em avaliações de ativos e opções existentes ou compromissos firmes.
  • Hedge de investimentos em moeda estrangeira. Reduz o risco de mudanças de valor para ativos estrangeiros líquidos, devido a mudanças em taxas de câmbio para moedas estrangeiras.

Por que usar contabilização de hedge?

A contabilização de hedge tem relação estreita com o momento da companhia. Ela não modifica a matemática das transações subjacentes de hedge; as mudanças de valor ocorrem apenas quando o resultado com derivativos é reconhecido nos demonstrativos financeiros da companhia. Com a contabilização de hedge, a meta é igualar o reconhecimento de ganhos e perdas de derivativos (instrumentos de hedge) com os ganhos e perdas de outros investimentos ou exposições líquidas (objetos de hedge). A capacidade de igualar as variações nos objetos e instrumentos de hedge no mesmo período de contabilidade, evitando excessiva volatilidade nos demonstrativos financeiros, é o verdadeiro benefício da contabilização de hedge.

A contabilização de hedge é opcional e tem sido muito adotada inclusive por companhias fechadas, ainda que muitas façam uso dela com a intenção de alinhar-se às melhores práticas. No entanto, a grande ênfase é na aplicação para companhias abertas (públicas), porque estas não querem que a volatilidade prejudique suas demonstrações de resultados da forma que ocorreriam com um derivativo a preço de mercado.
 

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