Cortar ou não cortar? Ex-BCs divergem sobre futuro da Selic

Por Aline Oyamada.

Três veteranos do Banco Central do Brasil concordam que a economia brasileira está se recuperando de forma mais lenta que o esperado e que o desemprego está muito alto. Contudo, eles têm visões diferentes sobre como Roberto Campos Neto deve cuidar do assunto.

Para Sergio Werlang, o corte de juros é para ontem, enquanto José Júlio Sennaacredita que o mais adequado é manter a taxa inalterada. Alexandre Schwartsman concorda com Senna, mas não descarta uma redução já que a inflação pode desacelerar ainda mais.

O maior motivo para as divergências é a eficácia de um afrouxamento monetário. Senna diz que após a Selic ter sido cortada em 775 pontos base desde outubro de 2016, um ou dois cortes adicionais não fariam tanta diferença no estímulo à economia.

“Acho muito pouco provável que uma queda adicional de 50 pontos base possa fazer realmente diferença,” disse Senna. “Temos incertezas importantes no exterior e aqui dentro. Tendo a concluir que o BC vai manter a Selic estável até onde a vista alcança.”

Já para Werlang, o patamar atual da Selic, de 6,5%, está longe de ser estimulativo e uma redução de pelo menos 100 pontos base, entregue com dois cortes de 50 pontos, é o mínimo a ser feito.

“Tem que haver cortes adicionais,” disse ele, adicionando que o desemprego está muito elevado. “Obviamente o BC está indo muito devagar.”

Schwartsman não vê cortes iminentes, mas diz que não ficaria surpreso se a inflação começasse a surpreender para baixo, estimulando a discussão sobre possível afrouxamento monetário.

“O cenário mais provável é de estabilidade da Selic,” disse. “Mas por conta da fraqueza da economia brasileira, tem chance sim de se abrir espaço para redução moderada adicional de juros, de 50, 75 ou 100 pontos base.”

Reforma da Previdência

Os três diretores também falaram sobre a aprovação da reforma da previdência, que todos acreditam ser indiscutivelmente necessária. Mas evitaram dar palpites sobre o timing e o tamanho final da reforma.

Caso haja uma decepção e os mercados começarem a precificar o fracasso da reforma, Schwartsman diz que o real sofreria uma desvalorização significativa, da ordem de 10%. Werlang acredita que seria ainda pior. Porém, os três descartaram qualquer possibilidade de o banco central reagir a uma turbulência no mercado com alta de juros.

“A situação seria muito pior do que quando se aventou a possibilidade de o PT ganhar as eleições,” disse Werlang.

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