Corte de 49% pode ser o melhor que esses investidores em bonds do Brasil podem esperar

Por Paula Sambo.

O colapso da moeda do Brasil fez sua primeira vítima: os bonds da General Shopping Brasil SA.

A operadora de shopping centers está oferecendo a recompra de até US$ 50 milhões de sua dívida sênior por uma fração do valor de face: US$ 0,51 por dólar se os detentores de bonds aceitarem até 29 de setembro e US$ 0,48 se esperarem duas semanas a mais. Embora o negócio venha com um prejuízo pesado, muitos gestores de recursos estão recomendando que os investidores o aceitem, porque a empresa com sede em São Paulo pode estar a caminho de pedir recuperação judicial. A General Shopping já deixou de honrar um pagamento de cupom que vencia em 20 de setembro sobre US$ 150 milhões em bonds subordinados.

A General Shopping não é a primeira empresa com problemas em um momento em que o Brasil caminha para sua mais longa recessão desde a Grande Depressão. Mas outros calotes deste ano — incluindo os da Ceagro Agrícola Ltda e da OAS SA — estavam ligados ao colapso dos preços das commodities ou a um abrangente escândalo de corrupção que estrangulou o financiamento e interrompeu os negócios. A General Shopping está enfrentando um problema diferente: com a queda da moeda local e obtendo toda sua receita em reais, a empresa está sobrecarregada por sua dívida em dólares.

“Sempre que ocorre uma grande desvalorização cambial há corporações que sofrem grandes prejuízos”, disse Jorge Piedrahita, CEO da corretora Torino Capital em Nova York. “As corporações que têm grandes dívidas em dólares parecem mais arriscadas e os calotes aumentam”.

Real afunda

Com a queda de 33 por cento do real neste ano, a maior entre as moedas mais negociadas do mundo, os US$ 250 milhões em notas seniores da General Shopping caíram 53 por cento, para 42,875 centavos de dólar, em 15 de setembro, um dia antes da oferta de recompra. Os bonds se recuperaram para 52 centavos desde então, indicando que os investidores veem a proposta como positiva.

A receita da General Shopping é gerada exclusivamente em reais, enquanto cerca de 66 por cento de sua dívida está em dólares. Como o real desmoronou, a dívida líquida total da empresa inchou para 9,4 vezes seus lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização até 30 de junho, segundo a Fitch. A agência de classificação projeta que a alavancagem da General Shopping irá chegar a 11 vezes até o fim deste mês, enquanto a proporção de seus pares deverá girar em torno de 4,5 vezes.

‘Corte severo’

A empresa anunciou em 16 de setembro a proposta em dinheiro para compra de um quinto de seus bonds seniores em circulação e disse que o acordo depende de uma oferta de ações ordinárias e de vendas de ativos planejadas. Isso veio na sequência de um anúncio, em 8 de setembro, de que a companhia adiaria os pagamentos de cupons sobre seus US$ 150 milhões em bonds subordinados. A empresa disse em um comunicado que o adiamento não constitui um calote. A assessoria de imprensa da General Shopping não respondeu aos pedidos de comentários adicionais.

Em 14 de setembro, a Fitch rebaixou as classificações das notas seniores da empresa para B-/RR2, uma classificação especial que implica que os detentores de bonds podem esperar para recuperar entre 71 por cento e 90 por cento do principal atual e dos juros relacionados em caso de calote. É mais do que a General Shopping está oferecendo na recompra. A Fitch também rebaixou a classificação das notas subordinadas para CCC-/RR5, implicando uma recuperação de 11 por cento a 30 por cento. A perspectiva em ambos os casos é negativa.

Apesar de ter conseguido algum tempo ao lançar a proposta e pular o pagamento de juros, a General Shopping ainda precisa de um plano abrangente para evitar ter de entrar com um pedido de recuperação judicial, disse Piedrahita, da Torino Capital.

“Isso realmente não vai resolver nada”, disse ele. “Não parece que o cenário vá melhorar para eles tão cedo”.

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