Por Sonali Basak, Lily Katz e Jan-Henrik Foerster.
O presidente do Credit Suisse Group, Tidjane Thiam, afirmou na semana passada que a especulação com bitcoin é a “própria definição de bolha”. Ainda assim, ele não consegue evitar a tecnologia por trás da moeda digital.
A conferência sobre dinheiro digital e tecnologia blockchain realizada no mês passado pelo Credit Suisse em Nova York foi “épica”, disse Lou Kerner, que já foi analista de renda variável do Goldman Sachs Group e agora aplica em moedas digitais como sócio da Flight VC. Ele estima que 300 pessoas compareceram ao evento. “Foi o maior dia para mim discutindo moedas digitais.”
O Credit Suisse tem funcionários dedicados à tecnologia – ou pelo menos a ajudar clientes interessados no assunto. Emmanuel Aidoo é responsável pela estratégia para blockchain e moedas digitais e Brian Wirtz está encarregado de blockchain na unidade de tecnologia de banco de investimento, de acordo com a agenda da conferência. Paul Condra, analista de pesquisa de renda variável, já escreveu sobre bitcoin e blockchain (o registro compartilhado que compila transações feitas com fichas digitais).
O banco sediado em Zurique se recusou a comentar.
No alto escalão, há muito ceticismo. Comandantes de grandes bancos relutam em envolver suas instituições em um ativo sem transparência, quase sem regulamentação e que pode ser criado por pessoas físicas e não por bancos centrais ou governos.
Valor intrínseco
Thiam afirma que o Credit Suisse tem interesse na tecnologia blockchain e trabalha com outros bancos para desenvolvê-la. Mas ele se junta ao coro formado por Axel Weber, presidente do UBS Group, e Jamie Dimon, presidente do JPMorgan Chase, nas críticas ao dinheiro digital. Em setembro, Dimon ameaçou demitir qualquer trader do JPMorgan que apostasse nisso e, no mês passado, Weber falou que a bitcoin não tem valor intrínseco porque nada a garante.
Em conversa com jornalistas em Zurique na semana passada, Thiam mencionou a regulamentação como uma das grandes preocupações.
“A maioria dos bancos, diante das regulamentações atuais, tem pouco ou nenhum apetite para se envolver um uma moeda com tantos desafios em termos de combate à lavagem de dinheiro”, ele falou. “Pelo que podemos identificar, o único motivo hoje para comprar ou vender bitcoin é ganhar dinheiro, o que é a própria definição de especulação e a própria definição de bolha.”
No entanto, na conferência de outubro e em relatórios enviados a investidores, o Credit Suisse passou um tom mais otimistas sobre moedas digitais.
Coisas simples
“A estrutura de investimento está emergindo”, escreveram analistas liderados por Condra em relatório enviado a clientes em 10 de outubro. Segundo eles, diretrizes regulatórias mais claras para as moedas digitais poderiam “catalisar investimentos mais amplos no segmento.”
O valor da bitcoin, a moeda digital mais negociada do mundo, bateu recorde na semana passada e já se multiplicou por quase sete neste ano, ultrapassando US$ 100 bilhões.
Quanto à blockchain, o Credit Suisse estuda como aplicar a tecnologia ao mercado de empréstimos sindicalizados. Neste ano, o banco aderiu a uma iniciativa do UBS para criar um novo tipo de dinheiro digital para liquidar transações financeiras usando blockchain.
Junto com mais de 200 empresas (entre elas UBS, JPMorgan, CME Group e Microsoft), a instituição também integra a Enterprise Ethereum Alliance, que fomenta o envolvimento corporativo com a plataforma Ethereum para blockchain.
“Algumas das aplicações que avaliamos vão simplificar bastante a forma que processamos até as coisas mais simples, como transações com ações no mercado à vista nos EUA, encurtando o tempo de compensação ou removendo a palavra ‘liquidação’ da nossa taxonomia”, afirmou Aidoo, do Credit Suisse, durante um painel promovido pela Bloomberg em setembro.
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