Cresce risco de ajuste vir com efeito colateral

Notícia exclusiva por Josué Leonel.

O Brasil vive uma crise fiscal que, aparentemente, sensibiliza poucos além do ministro Levy. O ajuste fiscal, destinado a livrar o País do risco de ter sua dívida rebaixada, sofre ameaças em duas frentes.

O Senado adiou para a semana que vem a votação da MP que dificulta o acesso ao seguro-desemprego e tenta corrigir a distorção, vista nos últimos anos, em que a taxa de desemprego caía e os gastos com o seguro disparavam.

Ao mesmo tempo, a Comissão de Constituição e Justiça do Senado aprovou um reajuste gradual, que vai de 53% a 79%, para servidores do Judiciário. O projeto segue com urgência para o plenário e se soma a outro desafio criado pela mudança na regra do fator previdenciário, que também está nas mãos dos senadores.

“O Levy tem mostrado habilidade política nas negociações. Mas é preciso que também as lideranças governistas no Congresso apoiem o ajuste. Não estamos vendo outros defendendo o ajuste com a mesma ênfase do ministro”, diz Gil Castello Branco, economista e secretário-geral da ONG Contas Abertas.

Para Castello Branco, o fato de o Brasil viver crises simultâneas, na economia e na política, torna o trabalho de Levy mais difícil. As demandas de grupos da sociedade crescem e uma próxima onda de pressões pode vir dos prefeitos, que vão enfrentar eleições no ano que vem em meio a restrições orçamentárias, diz o economista.

Castello Branco considera que o cenário mais provável é que o governo acabe por fazer um ajuste fiscal, mas de “péssima qualidade”, recorrendo a aumentos de impostos para compensar a frustração com cortes de gastos vetados pelo Congresso.

Com esse arranjo, o Brasil pode se livrar da perda do grau de investimento, mas a recuperação da economia poderá ser prejudicada pelo aumento da carga tributária. O ajuste por meio de aumento de impostos é um tratamento com maiores efeitos colaterais, diz o economista. “Vai ser como um doente que consegue sair da UTI mas, em vez de se recuperar rápido, fica um longo período na cama”.

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