Crescimento da zona do euro fica abaixo de estimativas e BCE estuda mais estímulos

Por Maria Tadeo e Jeff Black.

O crescimento econômico da zona do euro apresentou uma desaceleração inesperada no terceiro trimestre, ressaltando a vulnerabilidade da recuperação da região em um momento em que o Banco Central Europeu examina a necessidade de aplicar novos estímulos.

O produto interno bruto do bloco de 19 países subiu 0,3 por cento, mostraram dados divulgados nesta sexta-feira, abaixo do 0,4 por cento do período anterior, valor que era também a estimativa média dos economistas em uma pesquisa da Bloomberg. As economias da Alemanha e da França cresceram 0,3 por cento cada uma, enquanto a da Itália teve uma expansão de 0,2 por cento.

Em um momento em que a desaceleração dos mercados emergentes testa a força da ascensão do bloco cambial, os dados fornecerão ao presidente do BCE, Mario Draghi, mais visibilidade antes da reunião de política monetária de dezembro. Draghi tem sinalizado que há estímulos adicionais a caminho, citando novos riscos de queda para o crescimento e a perspectiva de inflação para a região, que poderá estacionar bastante abaixo da meta de 2 por cento do BCE.

“Esse descumprimento não é um desastre gritante, embora aumente a pressão para que o BCE tome medidas em dezembro”, disse Alan Clarke, economista do Scotiabank em Londres. “Considerando isso, não acreditamos que o BCE vá utilizar toda a sua munição a esta altura”.

Com os novos sinais de fraqueza, os olhos agora estão voltados para o próximo movimento de Draghi. Clarke acredita que o BCE cortará a taxa de depósito e expandirá o ritmo atual de aquisições mensais de 60 bilhões de euros (US$ 65 bilhões), mas manterá setembro de 2016 intacto como data final para a flexibilização quantitativa.

Euro mais fraco

Existem 95 por cento de chances de o Conselho Governativo do BCE cortar sua taxa de depósito em 10 pontos-base em dezembro, levando-a para menos 0,3 por cento, mostram contratos a prazo da Eonia datados pelo BCE. O euro perdeu força após a divulgação dos dados, caindo em direção ao nível mais baixo em seis meses em relação ao dólar. Os bonds avançaram em países como Alemanha, França e Itália.

A divisão dos dados de PIB por país mostrou que as produções alemã e francesa ficaram em linha com as estimativas dos economistas, enquanto os números da Itália, dos Países Baixo e de Portugal ficaram abaixo das projeções das pesquisas da Bloomberg.

A produção abaixo da estimada na região é divulgada apenas um dia depois de Draghi alertar que a perspectiva para o núcleo da inflação, que remove itens voláteis como energia, havia “perdido alguma força” e pontuar que os riscos de queda provenientes de uma desaceleração global são “claramente visíveis”, representando implicações para os países da zona do euro orientados às exportações.

Freio de mão

“A recuperação da zona do euro continua, mas é como se alguém estivesse dirigindo com o freio de mão puxado”, disse Peter Vanden Houte, economista do ING Bank NV na Bélgica. “Nós acreditamos que o BCE na verdade já está convencido e que os números de hoje não são fortes o suficiente para impedi-lo de seguir adiante com a flexibilização pretendida”.

A tentativa de transição da China da expansão do investimento para um crescimento liderado pelo consumo representa riscos para a Alemanha, país orientado às exportações que já está enfrentando dificuldades para elevar a produtividade em uma sociedade idosa. Ao mesmo tempo, a baixa recorde no desemprego, as condições de crédito fáceis e a moeda enfraquecida têm oferecido um amortecedor para os consumidores e as empresas.

Os dados alemães “não representam a velocidade de cruzeiro essencial da economia alemã”, disse Andreas Rees, economista do UniCredit SpA em Frankfurt. “Quem pensa que o desenvolvimento após o recesso do verão marca uma reviravolta para pior logo ganhará um sangramento no nariz. A recuperação das exportações e da atividade industrial, aliada à demanda interna forte, forma um coquetel de crescimento bastante bom”.

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