Cruzeiros navegam mar hostil para conquistar a China

Por Bloomberg News.

Liu Jing se levanta às 7 da manhã, dá o café da manhã para a mãe de 84 anos e para o neto de dois anos e passa o dia tomando conta do menino no playground, com intervalos para as refeições, o cochilo da criança à tarde e talvez um pouco de TV à noite.

Isso é normal para um aposentado chinês, muitos dos quais cumprem um papel fundamental na criação dos netos. Mas Liu, 57, está a bordo do Costa Atlântica, um cruzeiro de luxo cheio de atividades e eventos que ela não aproveita.

“Eu simplesmente não tenho tempo para fazer tudo isso”, disse Liu, que mora em Pequim e começou a viagem com o marido, o neto e a mãe no porto de Tianjin no fim do ano passado. Para onde você olhar, no cruzeiro, você vai ver idosos como eu, com crianças pequenas.”

Linhas como a Royal Caribbean Cruises e a Carnival enviaram uma frota de navios de luxo para a China para explorar o mercado de mais rápido crescimento do mundo, mas estão enfrentando águas turbulentas. Além de ter que satisfazer os gostos dos passageiros chineses, eles navegam à sombra da política cada vez mais volátil da região. E logo irá surgir uma nova ameaça: as empresas chinesas estão construindo seus próprios grandes navios.

Adaptação ao público chinês

“Agora é um processo de aprendizagem”, disse Ken Muskat, diretor-executivo da SkySea Holding International, operadora de cruzeiros com sede em Xangai. “Todo mundo está se adaptando e aprendendo mais sobre o que o mercado chinês está procurando.”

O número de passageiros na China foi multiplicado por dez em cinco anos, para cerca de 2 milhões em 2016, e o governo prevê 4,5 milhões até o fim da década. A maioria faz viagens mais curtas — cinco dias em média — para a Coreia do Sul e o Japão, os dois principais destinos da Ásia fora da China, segundo a Associação Internacional de Linhas de Cruzeiros, o órgão do setor.

Com tanto potencial — a China ainda está longe dos mais de 11 milhões de americanos que fazem cruzeiros todos os anos –, as empresas estão levando navios maiores e melhores para o Mar Amarelo, adaptando suas ofertas e buscando novos destinos em um esforço para persuadir os viajantes chineses de que um cruzeiro é mais do que apenas uma forma de transporte.

“Ainda temos um enorme desafio pela frente para criar mais consciência no consumidor sobre o que é um cruzeiro, como é essa experiência”, disse Adam Goldstein, presidente da Royal Caribbean.

Mas antes que os novos cruzeiros da China se adaptem à vida no oceano, as linhas dos cruzeiros terão que se adaptar aos gostos locais.

“Os passageiros dos cruzeiros chineses são muito orientados à família”, disse Muskat na SkySea, que conta o serviço de viagens on-line da Royal Caribbean e da China Ctrip.com International como principais patrocinadores.

Águas turbulentas

Mas para os operadores locais e estrangeiros, as águas ao redor da China se tornaram cada vez mais arriscadas devido à política da região. Em março, a Royal Caribbean Cruises e a Costa cancelaram escalas em portos da Coreia do Sul dos seus cruzeiros partindo da China em meio a tensões crescentes entre os dois países sobre a implantação de um sistema americano de defesa de mísseis Thaad.

Esses riscos não impedem a expansão do setor. As linhas de cruzeiros já estão mirando o mercado em grande parte inexplorado de potenciais passageiros das cidades do interior da China, um mercado que está se tornando mais acessível à medida que o país constrói mais aeroportos e ferrovias de alta velocidade.

“Eles simplesmente não podem ignorar um mercado mais amplo fora do litoral”, disse Yu. “Se eles puderem estender o mercado para o interior, então o número de passageiros dos cruzeiros poderia crescer de milhões para dezenas de milhões.”

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